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Governo ressuscita Touring ao custo de 500 mil por mês

Fábio Damasceno, que deveria se preocupar com mobilidade urbana, preferiu ter um gabinete mais confortável. Foto/Antônio Cruz - Arquivo Notibras

Bartô Granja

Milagres – acreditem ou não -, acontecem. E quando são pagos, ficam mais palpáveis ainda. O último deles acaba de virar realidade. Foi promovido por Fábio Ney Damasceno. Ele, secretário de Mobilidade Urbana do Governo de Brasília, decidiu alugar o antigo edifício do Touring Club, na Plataforma Superior da Rodoviária do Plano Piloto, pela bagatela de 500 mil reais mensais.

O prédio pertenceria supostamente à Global, empresa distribuidora de combustíveis. Atua, direta ou indiretamente, na área comandada por Damasceno. Ali vai funcionar a parte burocrática da Secretaria de Mobilidade. O resto continuará no Setor de Armazenamento e Abastecimento Norte.

O desmembramento físico da Secretaria é um tiro mortal no usuário do órgão. Damasceno burocratizou e deu um nó na mobilidade. Um taxista, por exemplo, vai precisar fazer duas viagens quando tiver de tratar de questões naquela Pasta. Entra com processo no Plano Piloto e corre para o SAAN, para vistoria. E como a gasolina não está barata, com certeza não fará esses deslocamentos sorrindo.

O Touring da Rodoviária foi projetado por Oscar Niemeyer. Está sendo ressuscitado como Lázaro, que voltou à vida pelas mãos de Jesus Cristo. A Bíblia conta que o irmão de Marta e Maria era rico. Essa versão pode ter inspirado o aluguel do prédio. A diferença é que o milagre de Damasceno será pago com dinheiro do contribuinte.

O certo é que Damasceno resolveu, não se sabe bem sob quais justificativas, que parte da sua Secretaria deveria deixar um imóvel próprio do Governo de Brasília e pagar meio milhão de reais mensais para funcionar em novas instalações.

Além de cara a locação, servidores do órgão, que pediram anonimato, afirmam que a mudança trará grandes prejuízos para os usuários. É que a parte burocrática do órgão, que funciona no mesmo prédio da vistoria, ficará a quilômetros de distância, ou seja, o usuário, que antes resolvia tudo em um só local, agora terá que ir primeiro ao prédio do Touring, onde não há estacionamento e, depois, seguir para o SAAN, onde funciona a vistoria.

Essa esdrúxula medida foi anunciada, estranhamente, no final da tarde desta sexta-feira, 21, e deve ser efetivada, segundo aviso nos cartazes distribuídos na ainda sede da secretaria, até o dia 7 de agosto.

A mudança é mais estranha ainda quando se sabe que, desde que assumiu o governo, Rodrigo Rollemberg alega crise financeira para não atender a diversos pleitos dos servidores públicos, entre os quais os policiais civis. Também justificou o aumento em até 100% no valor do IPTU sob o argumento de que os cofres públicos estão vazios.

A contradição no que se fala e no que se faz, é gritante. No momento em que o Mané Garrincha consome mais de 2 milhões de reais em água, trocar um edifício próprio do GDF para gastar meio milhão de reais em aluguel leva o cidadão que paga impostos a dois pensamentos: ou o Palácio do Buriti não enfrenta nenhuma dificuldade financeira, ou urge a troca dos gestores nomeados por Rollemberg.

Porém, há mais coisas estranhas. Como, por exemplo, o fato de que o edifício do Touring Club, agora alugado, já pertenceu ao poder público, e foi leiloado por falta de interesse do Governo de Brasília em ocupá-lo.

Fábio Damasceno é apadrinhado por Marco Dantas, homem-forte de Rollemberg e dono da última palavra no PSB brasiliense. O agora secretário das Cidades é candidato declarado a uma cadeira na Câmara dos Deputados nas eleições do próximo ano. Já tem gente insinuando que com tanto dinheiro em jogo, o papa-lixo vai sujar a candidatura.

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