Fernanda Nunes e Lucina Collet
Em período de seca nos reservatórios hidrelétricos, os sinais são de que o consumidor vai pagar ainda mais pela eletricidade. O Operador Nacional do Sistema Elétrica (ONS) já recorre às térmicas, mais caras e poluentes, para garantir o abastecimento. Em breve, porém, a situação deve ficar mais crítica. O governo admite contrariar o critério “preço” na hora de definir a usina a ser acionada e avalia contratar termoelétricas que hoje estão paradas por terem custo muito superior ao da média.
“Temos preocupação com a situação. Agora, começamos a ter sinais de que alguma chuva pode vir. Mas já alertamos há um tempo de possível impacto nas tarifas ao consumidor”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, antes de participar de almoço com empresários dos setores de eletricidade e petróleo, na Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio.
Responsável por definir as usinas contratadas diariamente, o ONS acionou ontem a UTE Flores, localizada na Região Norte do País, a térmica mais cara despachada no dia, com o megawatt-hora (MWh) a R$ 808,99. Ela só foi convocada a participar da carga porque está produzindo a um valor menor do que o limite definido para a semana, de R$ 823,16 por Mwh.
Em breve, no entanto, esse tipo de avaliação, de preço, não vai mais ser feita e a ordem prioritária a ser seguida será a de economizar a água dos reservatórios. De olho no funcionamento das térmicas, o governo conversa com a Petrobrás, fornecedora do combustível. Três usinas estão com problema de acesso ao gás natural, entre elas a Térmica Cuiabá, do grupo J&F, dos empresários Wesley e Joesley Batista, investigados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
A decisão de acessar o conjunto de térmicas mais caras é do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que, nesse período de crise, passou a se reunir semanalmente. O próximo encontro acontecerá nesta quarta-feira, 1º.
Bandeira – Na semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou que a conta de luz vai aumentar em novembro. A bandeira vermelha patamar 2, cobrada nos períodos mais críticos de geração de energia, foi reajustada em 42,8%. Com isso, a tarifa extra para cada 100 kilowatts-hora consumidos passou de R$ 3,50 para R$ 5.
Ao optar por ignorar o critério “preço” na hora de decidir quais usinas vão contribuir com o sistema elétrico e por recorrer às termoelétricas mais caras e poluentes, o governo abre espaço para que a conta de luz suba ainda mais nos meses de reajuste tarifário de cada distribuidora. Uma vez por ano, as empresas repassam para o consumidor o aumento de custos acumulado nos últimos 12 meses.