Mauro Calil
Há muitos, muitos anos, o Brasil encontra encruzilhadas econômicas que se renovam. A cada novo governo, ou ciclo, acabamos por escolher um caminho que só nos leva uma nova encruzilhada. Assim foram as decisões do pós-guerra, que nos levaram à hiperinflação do século passado. Assim foram os governos recentes, que aumentaram gastos no período pós-“controle” inflacionário.
Chegamos a um orçamento declaradamente arrombado em R$ 170,5 bilhões (só para 2016), com uma carga tributária de 40% do PIB. Relação que só piora, pois o PIB é cada dia menor, em consequência da carga tributária abusiva que corrói o lucro, a capacidade de investimento, consumo e formação de poupança interna.
Hoje temos um parque industrial super-dimensionado pela queda abrupta da demanda. Em função disso, é possível aumentar muito a produção sem gerar qualquer emprego. Em paralelo, há a enorme concorrência dos importados, em especial da China.
Diante desse quadro, o governo não será capaz de recuperar tais empregos –mais de 11,5 milhões– sem o auxílio do setor privado, justamente quem forma a renda que é transformada em impostos. Aumentar a carga tributária é uma miopia financeira dos governantes. Não enxergam que logo adiante matarão mais galinhas de ovos de ouro.
O único caminho seguro exige coragem política. Essa alternativa passa pela redução acentuada do peso do Estado sobre a sociedade, ou seja, implica em cortar milhares, talvez milhões, de cargos públicos nomeados e manter somente os concursados.
Significa privatizar o que o setor privado faz muito melhor que o Estado. A lista pode começar pelos Correios, passando por empresas de esgoto e abastecimento de água, ou mesmo o sistema de transporte, e talvez chegue à saúde. Ou você prefere o SUS?
Outro dia li em uma rede social a seguinte frase: “Nosso problema não é o fim do Ministério da Cultura, mas, sim, a cultura dos ministérios sem fim” (desconheço o autor). Se queremos reduzir nosso rombo orçamentário e ter espaço para refinanciar nossa dívida a custos menores que os 14,25% a.a. atuais, temos que gastar menos, muito menos! O dinheiro é mais caro para quem dele necessita urgentemente.
Para o bem de muitos, ou para o mal dos poucos, que mamam nas estatais, o setor privado faz quase tudo com muito mais eficiência. A privatização sem tabelamento de lucro deve vir. O lucro não é um vilão e só é obtido por mérito da inteligência competitiva ao gerar eficiência, economia e tecnologia. Países realmente ricos (riqueza se mede pelo IDH e não por florestas ou minerais no subsolo), mais justos e com renda maior e melhor distribuída, mostram que isso é possível. Enquanto a nós, nos sobra invejar tais conquistas.