Luiz Vassallo, Julia Affonso e Ricardo Brandt
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, no âmbito do processo que investiga propinas da OAS ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a manutenção dos bens do petista “não fez parte de nenhum acerto”.
As acusações contra Lula são relativas ao suposto recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira OAS por meio de obras no triplex do Guarujá, no Condomínio Solaris, e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, de 2011 a 2016. Além de Lula, o presidente do Instituto também é réu na ação.
Questionado a respeito da denúncia, Okamotto afirmou a Moro que a manutenção dos bens do ex-presidente pela OAS, em contrato com a Granero, “não fez parte de nenhum acerto”.
“Foi contribuição de uma empresa que apoia um projeto cultural, de preservar a história”, avaliou.
Okamotto contou que, ao final do mandato do ex-presidente, recebeu uma ligação do então chefe do gabinete de Lula, em 2010, para tratar sobre qual destino seria dado aos bens do petista. De acordo com o chefe do Instituto Lula, os itens chegavam a ocupar 11 caminhões.
Inicialmente, Okamotto disse tentar orçamentos para que os bens ficassem no Sebrae e no Sindicato dos Metalúrgicos, mas não obteve êxito. “Também recebi informação que parte do material foi encaminhado ao Banco do Brasil. As coisas de mais valor. Eram placas comemorativas de pessoas que dão, pessoas, entidades, medalhas, viagem que o presidente fez”.
De acordo com Okamotto, os bens do ex-presidente não poderiam ficar na sede do Instituto e a entidade também não tinha condições de bancar o armazenamento. Teria surgido então, segundo Okamotto, a ideia de entrar em contato com a empresa Granero. “Eu entrei em contato com a Granero e falei a eles sobre a dificuldade. Eles disseram que tinham condições de guardar. Eu visitei o local, vi que eles tinham container para guardar”.
O contrato com a Granero teria sido firmado provisoriamente, até que o Instituto tivesse condições de pagar pelo armazenamento, segundo Okamotto. Após alguns meses, empresa passou a dizer ao Instituto que não teria mais interesse de manter o material. O presidente da entidade então disse ter procurado o presidente da OAS.
“O doutor Léo [Léo Pinheiro, presidente da OAS] foi visitar Lula e eu perguntei: O senhor não tem acervo para guardar o acervo presidencial? Ele disse que não. Eu contei o problema com a Granero. Ele disse que devia ter algum contrato com a Granero. Ele deu um retorno, disse que tinha negócio com a Granero. Eu chamei o cara da Granero, expliquei que a OAS poderia apoiar alguns meses de aluguel até achar uma alternativa e aí a Granero fez contrato com a OAS”, afirmou.
Na versão de Okamotto, o Instituto não chegou a pagar a OAS pelo armazenamento, e continuou com dificuldades de encontrar outro lugar para manter os bens de Lula. A entidade teria procurado o ex-prefeito Gilberto Kassab, que chegou a enviar um projeto à Câmara Municipal para destinar os itens, mas a iniciativa teria sido barrada pelo Ministério Público Estadual.
Defesa – De acordo com o advogado de defesa, o criminalista Fernando Fernandes, o ex-presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, respondeu em seu interrogatório todas as perguntas, “esclarecendo a inexistência de qualquer crime relacionado a manutenção do acervo presidencial”.
“O juiz Sérgio Moro tem todos os elementos para absolvição quanto a esta acusação despropositada, que já conta com parecer da Procuradoria da República para o trancamento da ação”, afirma Fernandes.
O advogado destaca “a consonância das respostas de Paulo Okamotto com os depoimentos do executivo da transportadora Granero, Emerson Granero, e do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro”.
“Embora Okamotto não seja co-réu na acusação sobre o tríplex no Guarujá, fez questão de esclarecer o que sabia, informando que dona Marisa (ex-primeira dama, falecida em fevereiro deste ano) mandou liberar a venda do apartamento, no prédio Solaris, pois Lula disse ainda que não compraria o imóvel porque não poderia usufruir.”