Agora, é guerra. No episódio que encerra a tetralogia Jogos Vorazes – uma trilogia cujo episódio final se divide em dois, e o segundo ainda é mais longo, é, tecnicamente, uma tetralogia -, o quadro é o seguinte. O presidente Snow isola-se na Capital e intensifica os combates contra os rebeldes; Peeta virou um bestante e, como tal, sofre de flutuações de humor e comportamento, e não pode ser considerado 100% confiável; Gale também se transforma num guerreiro impiedoso e, dessa forma, perde a confiança de Katniss; e, claro, ela, a heroína dos jogos, a esperança dos rebeldes – Mockingjay! -, assume que vai matar o presidente Snow, mesmo que isso signifique atravessar 75 quadras de campo minado, em plena Capital. É guerra, e para acabar com todas as guerras.
Jogos Vorazes: A Esperança – O Final estreia oficialmente nesta quinta-feira, 19, mas, a partir desta quarta-feira, 18, os mais afoitos já podem se antecipar e ver o desfecho da saga em salas selecionadas.
Jogos Vorazes baseia-se na série de livros de Suzanne Collins. Nada a ver com a saga erudita de JRR Tolkien, o Senhor dos Anéis, nem com JK Rowling, Harry Potter, muito menos com o (mais velho) Star Wars. Collins inaugurou um tipo de saga. Depois dela vieram Veronica Roth (Divergente) e James Dashner (Maze Runner). Os três compartilham a mesma ideia de grupos de jovens que se unem para combater um poder autoritário. E todos viraram filmes. O primeiro Jogos Vorazes – o livro é de 2008, o filme, de 2012 – pega carona num fenômeno contemporâneo, mas que em quase todo o mundo se foi tornando obsoleto, menos no Brasil, os reality shows.
No mundo autoritário de Panem, o presidente Snow controla a insatisfação fazendo com que os distritos se matem entre si selecionando representantes para os ‘Jogos’, que são transmitidos ao vivo pela TV. Em Jogos Vorazes (2), Em Chamas, a crítica é aos meios de comunicação que manipulam, portanto, controlam a opinião pública. E, nas duas partes do 3, A Esperança, o confronto é final – a batalha de todas as batalhas contra o poder central. A surpresa, o twist final, já vinha se desenhando, e é o poder crescente de Coin/Julianne Moore como comandante suprema dos rebeldes.
Gary Ross, diretor do bom Seabiscuit, escolheu o elenco e formatou o primeiro Jogos Vorazes. O filme, planejado para estourar na bilheteria, cumpriu sua agenda, mas o cineasta recusou-se a seguir o ritmo frenético da pré-produção do 2. Ross queria tempo para garantir ‘a integridade artística’ do filme. A Lionsgate, produtora norte-americana, mandou-o andar. Mais importante que a ‘arte’ era seguir o cronograma. Entrou em cena Francis Lawrence, diretor de Eu Sou a Lenda, a versão com Will Smith e Alice Braga. Na saga de Suzanne Collins, Katniss Averdeen torna-se a estrela dos jogos e a expressão da rebeldia dos distritos contra a Capital, isto é, o presidente Snow (interpretado pelo veterano Donald Sutherland). Em torno de Katniss, aglutina-se o grupo, que vai sendo dizimado.
Forma-se o triângulo, Katniss/Peeta/Gale. Erigida em símbolo/mito, Katniss vira Mockingjay, o pássaro que, no Brasil, ficou sendo A Esperança. No episódio final, à frente de um grupo reduzido, ela avança pela Capital, transformada em arsenal de armadilhas sem fim, rumo ao covil do presidente Snow. Katniss não segue as ordens de Coin. Daí decorrem as surpresas do desfecho – mas serão mesmo surpresas?
Os fãs de carteirinha da saga vão amar – havia gente chorando na pré-estreia de segunda à noite, no JK Iguatemi -, mas a dramaturgia é fraca. Pão/pão, queijo/queijo. A nuança não é o forte de Francis Lawrence. Collins pode até não admitir, mas com certeza foi influenciada por O Sobrevivente, com Arnold Schwarzenegger, de 1987. Os ‘jogos vorazes’ saem de lá. Lawrence, por sua vez, é clone do diretor Paul Michael Glaser. Tudo o que é brega no visual de seus filmes na série sai diretamente de O Sobrevivente.