Um surfista que morreu pegando onda pode se tornar o primeiro santo carioca. Já corre no Vaticano o processo de beatificação de Guido Schäffer (1974-2009), o jovem médico e seminarista que adorava o mar e era conhecido em toda a zona sul do Rio de Janeiro por seu trabalho de atendimento aos mais pobres e sua pregação religiosa.
Em 1.º de maio – data que marcou os nove anos de sua morte -, uma missa rezada na Praia do Recreio dos Bandeirantes pelo cardeal arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, para mais de mil pessoas, comprovou a crescente popularidade da candidatura de Guido ao concorrido panteão dos santos católicos.
Para que Guido seja proclamado beato será necessária a comprovação de um milagre – no caso, uma cura que não possa ser explicada pela ciência. Para a canonização, é preciso comprovar um segundo milagre.
Quem entra na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, na zona sul, tem uma noção da importância de Guido na comunidade. Desde que os restos mortais do surfista foram transferidos para a igreja, em 2015, os fiéis se reúnem ali para agradecer as graças alcançadas. A quantidade de velas, flores e ex-votos (presente dado pelo fiel ao santo de devoção) dão a dimensão da popularidade de Guido. “Eu sou um dos grandes milagres de Guido”, disse Tatiana Ribeiro, de 35 anos.
Ela contou que há três anos se submeteu a uma cirurgia bariátrica, sofreu uma complicação e quase morreu. Sua mãe sonhou com um jovem que apontava, num exame de imagem, o lugar exato onde havia uma fístula. A mãe de Tatiana não conhecia Guido e muito tempo depois, vendo um santinho, reconheceu o jovem que aparecera no sonho.
“Guido era um São Francisco do Rio”, compara padre Jorjão, da paróquia da Nossa Senhora da Paz, amigo pessoal de Guido e autor do livro O Santo Surfista. “Ele reunia grupo de jovens médicos de todas as especialidades para atender aos pobres gratuitamente; resgatava a dignidade de pessoas que moravam na rua; atendia os drogados.”
História. Guido nasceu em 22 de maio de 1974, em Volta Redonda. Filho do médico Guido Vidal Schäffer e da dona de casa Maria Nazareth Schäffer, mudou-se para Copacabana, na zona sul, onde passou a juventude entre a escola, a praia e a igreja. Guido seguia uma vida típica de jovem de classe média criado na zona sul do Rio nos anos 90: se formou em Medicina, começou a trabalhar e, namorando sério havia alguns anos, chegou a marcar a data do casamento.
Foi em 2000, durante excursão religiosa com a família a Roma, que Guido percebeu que deveria seguir o sacerdócio. Estudou filosofia e teologia e estava prestes a ser ordenado padre quando morreu pegando onda com amigos no Recreio, no feriado do Dia do Trabalho de 2009, aos 34 anos. Foi atingido na parte de trás do pescoço por uma prancha desgovernada. O golpe o fez desmaiar e ele acabou morrendo afogado.