Café com letras
Há sempre um ‘mas’ e tudo o mais quando é nosso dia de folga
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Em um dia de chuva, o bom mesmo é ficar no aconchego do lar lendo um bom livro e tomando aquele café quentinho com pão de queijo.
MAS, (sempre tem um MAS, no meio do meu caminho) esse sossego é quebrado pelo toque do telefone. Finjo ignorar a chamada, MAS, como a insistência é muita, resolvo atender.
Para minha surpresa é o Otávio, editor chefe do jornal que trabalho.
– Alô!
– Oi Phoebe, tudo bem?
– Olá Otávio, até você ligar, estava tudo bem.
– Nossa! É assim que você atende os amigos?
– Em dia de folga, sim. Principalmente, quando esse amigo é o chefe.
– Poxa, Phoebe, assim você me deixa sem graça.
– Você, sem graça! Não me faça rir…
– Te ligo com a mais boa das intenções, e você me responde de forma irônica?
– Chega de chantagem emocional Otávio, vamos logo ao assunto. Qual o motivo da ligação?
– Sei que é o seu dia de folga e que não tenho o direito de estar te incomodando, MAS devido as chuvas e o engarrafamento, o Levi não chegará a tempo de cobrir a abertura da Feira de Arte Moderna. Ele ligou informando que o trânsito está caótico. E como você adora arte, pensei em te escalar para essa reportagem. Que tal?
– Otávio, Otávio (respiro para responder) amo arte, mas não será possível. Se fosse outro dia…
– Phoebe, não acredito que você vai perder essa oportunidade, única.
– Penso que dessa vez vou perder. Não tenho nenhuma intenção de abrir mão da minha tão adiada e esperada folga. Além do mais estou lendo um livro ótimo e no ápice da leitura você liga me atrapalhando. Sem contar essa chuvinha maravilhosa!
– É por uma boa causa.
– Compreendo e agradeço o convite.
– Isso quer dizer que você topa?
– A Cora e o Antônio, também estão de folga. Você entrou em contato com eles?
– Tentei, mas não consegui. Penso que a pessoa ideal para cobrir o evento é você.
– Entendi.
– Posso contar com a sua colaboração?
– Prometo a mim mesma, que esta será a última vez que abandono a minha folga pela metade, para apagar incêndio de colegas. Ok?
– Ufa! Garanto que você não vai se arrepender.
– Assim espero.
Invento mil desculpas, MAS nenhuma cola. Aborrecida, desligo o telefone e resmungando vou correndo pegar o meu equipamento fotográfico.
– Logo no meu dia de folga! E ainda por cima com essa chuva! Será que realmente não tinha outra pessoa para substituir o Levi? Por que logo eu? Tenho que aprender a dizer não.
Indignada por não ter conseguido convencer o chefe e ainda tendo que deixar o conforto do lar, tomo mais um gole de café e na pressa, a xícara tomba e derrama o liquido no precioso livro.
Olho o relógio e percebo que me restam precisamente trinta minutos para chegar até o local do evento. Vejo o livro manchado, tiro uma foto e saio apressada…
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