Mais viável
Há um Projeto Orla na gaveta; vale dar uma olhada
Publicado
emKleber Ferriche
É surpreendente a capacidade que o poder Executivo tem de desperdiçar recursos. Não há memória documental, inexiste processo contínuo de estudos e obras, impera o descaso por estudos e pesquisas realizadas por governos anteriores sobre providências estruturais, indispensáveis ao funcionamento da sociedade.
Foi anunciada agora uma enquete eletrônica para que a população opine sobre o destino da orla do Lago Paranoá. Seria trágico se não fosse cômico. Um dos estudos mais bem elaborados foi desenvolvido há cerca de 20 anos, por uma empresa que trouxe o que havia de melhor no mundo sobre o tema.
Determinou os polos e as atividades recomendadas, que previa um mix moderno e atualíssimo, sem prejuízo do meio ambiente. O projeto foi pago, não custou pouco, está engavetado em alguma mesa do Buriti, mas o governador desconhece e o Ministério Público provavelmente também.
Não é vergonha utilizar boas ideias compradas e pagas com o dinheiro do contribuinte e consolidá-las, mesmo 20 anos depois, antes de desperdiçar mais dinheiro com uma sugestão de concurso internacional, cortina de fumaça muito manjada para encobrir o grave erro de desmantelar as margens do Paranoá em troca de uma semana de repercussão midiática que agora pode ter ré.
O Projeto Orla, ainda que merecesse ser reavaliado, não foi feito por amadores, não é uma Feira Popular, ou um assombroso Polo de Cinema nem um Polo de Modas como o do Guará. Nenhum deles existe hoje, mas perto de 60 milhões de reais (não atualizados) foram jogados fora só nesses três equivocados projetos.
Pode ser que ninguém saiba, mas existe um projeto pronto do metrô circular na Esplanada dos Ministérios, criando bolsas de estacionamentos nas extremidades da nossa principal avenida, na mais importante veia de circulação e que retira os veículos do centro da cidade. Você sabia? Rollemberg sabe disso? O MP sabe disso?
Talvez não. O melhor é anunciar uma pesquisa sem qualquer critério técnico, transformá-la em espécie de audiência pública, endossar o descabido ato de destruir a orla preservada por particulares e abandoná-las, sem nenhum projeto prévio de reconstrução ou utilização sustentável. E agora vem o anúncio de uma concorrência internacional? O Projeto Orla já era internacional, alguém folheou suas páginas?
Anfiteatros, casas de shows, marinas, bares e restaurantes, em pontos previamente estudados, que poderiam gerar emprego e renda imediatamente. A ideia de acabar com a Agefis é do mesmo autor que a criou, José Roberto Arruda, muito arrependido, ainda em sua última campanha. Mas aquela agência e sua autora não são o mal maior, mas sim a falta de continuísmo de projetos inteligentes, a ignorância em estabelecer a importância de projetos de Estado sobre projetos de governos, que deveriam ter leis de continuidade.
A Câmara Legislativa deveria encaminhar PL sobre o assunto, determinando que obras de comprovado interesse de longo e médio prazos não fossem interrompidas a cada mandato. Essa, sim, seria uma demonstração de respeito ao cidadão e ao seu bolso. E à sua pobre inteligência.