O segmento da economia – exceção dos banqueiros – que responde por grande parte do PIB brasileiro reagiu nesta quinta, 12, num misto de surpresa e ironia, à declaração do ministro da Economia Fernando Haddad, que diz ter sido pego de surpresa com o aumento da Selic em um ponto percentual, decidida na véspera pelo Comitê de Política Econômica do Banco Central. As taxas elevadas (agora na casa de 12,5% ao ano) prejudicam o comércio, a indústria, o agronegócio, a construção civil… e o povo, de maneira geral, também conhecido como consumidor. Como a disputa entre a classe produtiva e os bancos é briga de gente grande, vamos nos ater ao cidadão simples.
Não é novidade que a vida do consumidor brasileiro é difícil. Mas ultimamente, ela tem sido marcada por uma jornada ainda mais tortuosa diante dos juros cada vez mais escorchantes. Se há algo que une todas as classes sociais é o peso das taxas que transformam sonhos em pesadelos e compromissos financeiros em labirintos sem saída.
Imaginem só: você planeja trocar aquele carro velho, que já não aguenta mais tantas idas e vindas. Pesquisa os preços, compara modelos, escolhe com carinho. Por fim, chega a hora de financiar. A surpresa: a parcela que parecia caber no bolso é multiplicada por juros exorbitantes, tornando a aquisição um verdadeiro luxo inalcançável.
E não são apenas os bens de consumo que pesam. O cartão de crédito, companheiro fiel de emergências e desejos, é um vilão silencioso. Uma simples falta de pagamento transforma-se em uma bola de neve, e o que era uma compra rotineira pode rapidamente virar uma dívida interminável.
A realidade dos juros altos também impacta as pequenas conquistas do dia a dia. Um empréstimo para reformar a casa ou investir no pequeno negócio vem acompanhado de uma taxa tão pesada que, muitas vezes, é mais fácil desistir do sonho do que enfrentar o custo.
Mas quem são os verdadeiros culpados? A economia global, os riscos do país, a inflação? Fácil é apontar para esses fatores, mas difícil é entender o ciclo vicioso que se perpetua. A verdade é que o consumidor acaba sendo o elo mais frágil dessa corrente, pagando por uma estrutura financeira que não oferece alívio.
Em tempos como este, a criatividade vira aliada. Muitos brasileiros encontram saídas alternativas: trocas, compras coletivas, adiamento de sonhos. A resiliência, marca registrada do povo, é testada a cada nova fatura, a cada contrato negado ou adiado.
Quem sabe um dia, os ventos mudem. Enquanto isso, seguimos nessa caminhada com passos cautelosos, tentando equilibrar sonhos e realidades no fio da navalha que é o crédito no Brasil. E, acima de tudo, com a esperança de que um futuro mais justo possa surgir entre tantas adversidades.
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Dora Andrade é Editora de Business de Notibras