Logo na largada da campanha no segundo turno, o PT já prepara uma flexibilização de seu programa de governo com o objetivo de ampliar alianças em torno de Fernando Haddad, candidato à Presidência da sigla. Os recuos se darão em pontos considerados sensíveis do programa, elaborado sob o comando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre os pontos está o recuo de Haddad em relação à proposta de convocar uma Assembleia Constituinte, alvo de críticas dentro do próprio PT. Outro ponto é a defesa que o candidato fez, em debate na TV Globo na quinta-feira passada, de se criar faixas de idade mínima para aposentadoria, promessa que não consta do programa petista. A proposta é objeto de estudos da equipe de economistas responsável pelo programa de governo. O grupo avalia a adoção de recortes regionais e por faixa de renda dos trabalhadores.
Segundo auxiliares e interlocutores do ex-prefeito, ele também é contra a proposta de adoção de um regime dual no Banco Central que consta do programa de governo. O texto registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diz que além da inflação, a política de taxa de juros do Banco Central tem que ter como meta a criação de empregos. Auxiliares do candidato dizem que ele discorda da proposta e é “conservador” em política macroeconômica.
Nesta terça-feira, 9, Haddad admitiu que pode rever pontos do programa de acordo com as alianças. “Ontem (na segunda-feira) anunciamos uma reformulação no nosso programa de governo que estava gerando uma questão, a proposta de Constituinte. Não tenho nenhum problema com isso. É uma maneira de dizer para a sociedade que estamos aqui para aperfeiçoar o nosso programa”, afirmou.
Haddad também passou a adotar discurso sobre segurança pública, uma cobrança que era feita por integrantes do partido. O petista disse que, se eleito, vai colocar a PF para atuar no combate ao crime organizado.
A estratégia do PT é tentar fechar alianças que trata como “programáticas”, apenas com os partidos de centro esquerda como PSOL, PSB e PDT, com os quais existe afinidade.
O PSOL, primeiro partido a declarar apoio a Haddad, conseguiu o compromisso do candidato com quatro pontos do programa de Guilherme Boulos: punição a empresas que desrespeitam a igualdade salarial entre homens e mulheres, combate aos privilégios na Previdência, ampliação do Minha Casa, Minha Vida e demarcação de áreas indígenas.
Para o professor de direito constitucional Marcelo Figueiredo, da PUC-SP, o segundo turno vai forçar tanto Jair Bolsonaro (PSL) quanto Haddad a mudar o discurso e ajustar propostas, seja para angariar novos apoios ou para apresentar mais detalhes sobre as propostas. “Os dois já alteraram uma perspectiva de mudança na Constituição: antes falavam em Constituinte, agora falam em reforma. Esse foi o primeiro ajuste”, diz.
Segundo ele, os ajustes no discurso devem ocorrer, no máximo, até a semana que antecede a votação do segundo turno. “Se eles fizerem um movimento muito brusco, isso pode ter consequência nas eleições. A uma semana da eleição, isso é suicídio”, afirmou.