Pacote fiscal
Haddad garante pão da classe média e ainda deixa caviar para mais ricos
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emNa quarta feira, 27, o ministro Fernando Haddad fez pronunciamento à nação apontando as linhas gerais de um ajuste fiscal e reforma na tributação de renda. Dentre as medidas, duas foram destaque, para o bem e para o mal, a depender do alvo. Uma que isentará de imposto de renda os salários até 5.000,00 reais, e a outra que imporá um desconto maior de imposto de renda para rendas superiores a 50.000,00 reais mensais. Essas duas medidas merecem algumas reflexões.
Claro que os do andar de cima, ricos por assim dizer, ficaram irritadíssimos, pois sempre ganharam com o modelo tributário brasileiro, que sempre onerou os mais pobres. E uma fatia da sociedade que se encontra ali naquilo que se chama baixa classe média, com renda entre 3.000,00 e 5.000,00 reais mensais, aplaudiram a proposta.
Óbvio que aqueles pobres capturados pelo discurso fascista da meritocracia e do “self made man”, empreendedores de si mesmo, dirão que é uma medida ruim, embora não tenham argumentos lúcidos e racionais para sustentar a posição.
Pois bem, o tal “mercado”, que tanta gente fala mas pouquíssima gente sabe de fato o que é, e que representa a síntese dos muito ricos que ganham dinheiro com a especulação financeira, odiaram a medida, e claro, lançaram-se em mais uma batalha especulativa contra o governo, contra o povo, contra o país, pressionando o câmbio, com o mesmo argumento de sempre, o equilíbrio fiscal, embora as medidas sejam estruturantes e mostram de forma límpida que ao longo de cinco anos haverá uma redução de gastos superior a 300 bilhões de reais.
O que está por traz desta sanha especulativa do mercado se traduz de duas formas. A primeira e muito clara, um desprezo à sociedade em geral que mais precisa do Estado, visto que estas medidas beneficiam os de baixo, ou seja, o ódio de classe; a segunda e mais sorrateira, que tenta passar um recado para o parlamento que é quem vai votar se aceita ou não tais medidas, e é reverberado pela mídia dominante do país a partir da vistosa elevação do valor do dólar fruto da especulação, é de que estas medidas podem “reduzir” o espaço para ganhos com o rentismo, na medida em que redireciona parte do orçamento para quem mais precisa, embora, em nenhuma vírgula das medidas haja qualquer coisa que toque no manejo da dívida pública, que faz a alegria destes rentistas. É tão somente o “medo” de que isso possa vir a ocorrer.
Infelizmente, desde 1995, quando o governo de FHC desregulou o mercado financeiro e jogou o Brasil na mão do financismo internacional, quebrar este percurso é trabalhoso, e com o apoio da mídia dominante, que ganha muito com esta financeirização, qualquer medida que signifique mexer na estrutura desigual e desumana da regressiva tributação brasileira, vai causar este tipo de alvoroço nos pouquíssimos que habitam o olimpo da pirâmide social do Brasil, mas que infelizmente, para suplício do conjunto da sociedade, ainda é quem manda.
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*Antonio Eustáquio Ribeiro é ex-diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília e mestre em Políticas Públicas.