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Hamas foi só o pretexto de Bibi para o fim do sonho palestino

Muito mais do que um grave erro diplomático ou quebra de protocolo, o encontro entre o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, e o rei posto Jair Messias, é uma afronta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de defenestrado politicamente e abandonado por boa parte de seus eleitores, atualmente o mito de coisa alguma e que o gato enterra são a mesma coisa. Portanto, se a ideia era perguntar ao jubilado ex-presidente o que fazer com os 34 brasileiros que ainda estão “presos” na Faixa de Gaza (embora anuncie-se nesta sexta a volta do grupo ao Brasil), o embaixador procurou a personagem errada. A menos que a patriotada diplomática sirva para Bolsonaro pressionar o “companheiro” Benjamin Netanyahu, também da falida extrema-direita, a fazer jogo duro contra Lula.

Embora um seja judeu e outro temente ao cramulhão de asas, ambos se merecem, pois fazem contas pela mesma taboada, rezam por cartilhas idênticas e, se puderem, matam o Satanás de rabo para comandar o inferno. Por isso, não são pessoas gratas em boa parte do planeta. Coitados dos que ainda os seguem. Perdão pelo sincericídio, mas, partindo do derrotado ex-mandatário, tudo é possível. Até mesmo jogar com a vida dos nacionais retidos em Gaza. Quanto a Zonshine, no jargão popular, bem que ele poderia enfiar a viola no saco, pedir para obrar e sair fora. Impressionante como uma figura acreditada no Brasil tenta se intrometer da forma mais tacanha na política doméstica.

Tudo bem que, enquanto Netanyahu estiver com o dele na seringa, o melhor caminho é não comprar briga com quem se acha acima do bem e do mal. Afinal, quem está sentado no formigueiro é capaz de tudo. Sugiro àqueles que não acreditam nessa tese que recuem dez meses no tempo e parem no 8 de janeiro. Certamente se lembrarão que, a pretexto de combater a invasão da esquerda no país do qual ele se achava dono, Jair Messias convocou seus terroristas patriotas para golpear descarada e desembestadamente a nação pela qual nunca fez nada.

Considerando que uma merecida reação à deselegante provocação do governo de Israel poderia dificultar a liberação dos brasileiros, entendo como normal a reação de Luiz Inácio em botar panos quentes na lambança do representante israelense. Para alguns membros da chancelaria brasileira, o gesto do embaixador judeu é uma clara sinalização de que, mesmo diante do estímulo à execução dos atentados golpistas e da inelegibilidade do cidadão, Israel continua vislumbrando Bolsonaro como protagonista da política nacional. Caso o alerta seja verdadeiro, bem que Netanyahu poderia facilitar a vida dos brasileiros, levando o “parceiro” tupiniquim para se alistar no Exército de Israel.

Se o povo israelense não gostar da sugestão, que tal levar o Jair para liderar o que sobrar do Hamas. A ideia não é de todo ruim, porque, em território judeu, o “capetão” teria chances de negociar com o senhor das bombas a urgente recriação da Faixa de Gaza com o sugestivo nome de Bozoquistão. Do alto de sua experiência de parlamentar com um milhão de projetos engavetados e de presidente da república farofa com frango, Bolsonaro faria uma bela administração na terra em que nasceu Jesus, conforme afirmam os estudados e deplomados doutores bolsonaristas. Não tenho dúvidas, por exemplo, de que, ao lado de Netanyahu, o mito farofeiro tentaria fundir o Hamas ao Hisbolá.

Rapidamente transformariam os dois grupos em um time de futebol de pelada, convocariam Neymar para roupeiro, o deputado “chupetinha” para massagista, Silvinei Vasques para preparador de gandulas, Daniel Silveira para auxiliar técnico e Sérgio Moro para juiz de linha. O técnico seria o ex-ministro Anderson Torres, um craque em preleção para sapos no brejo. Unidos, todos tentariam passagens oficiais para viajar o mundo justificando a ação militar bestialmente determinada contra a Faixa de Gaza. O Hamas é apenas um detalhe nessa tenebrosa, macabra e interesseira história. Só faltou Donald Trump na formação do triunvirato do mal. O mundo ainda se dará conta de que as “atrocidades” do Hamas acabaram como pretexto para um desejo antigo e muito maior: enterrar o sonho do Estado Palestino.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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