O Lado B da Literatura
Hélio Cervelin, o homem-literato que tem a modéstia como sua maior virtude
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Se virei retratista, antes isso a ser alcunhado de fofoqueiro. Ou, como meu amigo José Seabra gosta de dizer, alcunhalado. Pois deixemos tais verbetes de lado e vamos ao que interessa. O retratado de hoje é o escritor e poeta Hélio Cervelin, notório e notável colaborador do Café Literário do Notibras.
O Hélio, aos 74 anos, disse que publicou APENAS dois livros (um de poemas, “Filho das Estrelas”, por conta prória, e outro, autobiográfico, “A Linha da Vitória”, recém-lançado pela Editora MEPE). Peraí, que negócio é esse de APENAS dois livros? Pois fique o senhor sabendo que eu, aos 81, queria ter publicado ao menos um.
Além desses APENAS dois livros, o nosso querido Hélio já participou de diversas coletâneas como poemas, contos e crônicas, sem contar as ótimas publicações aqui no Café Literário do Notibras.
Ah, cansei de falar sobre o LADO A do Hélio. Aqui falo é do LADO B do sujeito. Pois bem, aqui vai! Você acredita que o nosso querido autor já foi bancário durante três décadas, também conhecidas como 30 anos? Isso mesmo!
— Ih, Condé, o Mathuza e o Edu também já foram.
— Foram o quê, Ceci?
— Bancários.
Nem sabia disso. Ah, Mathuza é o Mathuzalém Júnior. Quanto ao Edu, trata-se do Eduardo Martínez. Hum… Será que os três trabalharam juntos? Não consegui desvendar esse mistério, mas um dia pergunto para o meu querido Mathuzalém.
Após se aposentar como bancário, o talentoso Hélio resolveu se dedicar a algo mais nobre: a literatura. Possui uma vasta biblioteca e, determinado que é, afirma: “Só vou morrer depois que ler todos.” Torçamos, então, que o acervo do nosso amigo seja vasto que nem o da Biblioteca Nacional, localizada na Cinelândia, no Rio de Janeiro.
O Hélio coordena um grupo de idosos que gostam de escrever, alimentando-o sempre que possível com textos de autoria dos membros dessa patota, Náufragos Literários Floripa (https://naufragosliterarios.blogspot.com). Sob sua liderança, o grupo, criado em 2017, produziu um livro, lançado em 2023, a coletânea Encontros & Desencontros.
O nosso retratado de hoje se formou em Ciências Contábeis, em 1986, na esperança de ser um Contador da Caixa Econômica Federal, até que um dia ficou sabendo da triste realidade. A estrutura da CAIXA previa, e prevê, apenas uma única vaga de Contador para todo o Brasil. Pois é, a CAIXA perdeu um Contador, mas nós ganhamos um Escritor. E que Escritor!
Inquieto como ele só, Hélio, ao se aposentar em 2006, sentindo-se pouco útil, decidiu pagar uma dívida consigo mesmo: matriculou-se, em 2010, na faculdade para estudar LETRAS – PORTUGUÊS, já que é um apaixonado pela Gramática. Formou-se em 2012, e o seu TCC, segundo seu professor, Abraão, seu monitor, “foi obra de um destemido”, pois o tema foi, nada mais, nada menos que MACUNAÍMA.
O Hélio chegou a lecionar o Português num cursinho para adolescentes, mas a remuneração era tão mirradinha, que desistiu alguns meses depois. Experiência interessante foi a de ser AVALIADOR DO ENEM. Centenas de redações avaliadas e a triste realidade: nossos alunos se comunicam mal. Ressalte-se que o Enem deve ter elevado o nível de nossos redatores. Imaginem se não houvesse essa exigência da redação!!!
Hélio é catarinense do Meio Oeste e reside em Florianópolis há 50 anos. Não frequenta as tantas lindas praias da ilha de Santa Catarina, porque não suporta ficar horas no trânsito. Já gostou mais do Carnaval, mas hoje prefere vê-lo pela TV.
De origem italiana, Hélio adora a língua dos antepassados, assim como a música e a culinária. A imigração italiana no Sul do país e os costumes italianos, aliás, são o tema de seu segundo livro. Dos italianos herdou o gosto pelas massas, o jogo de bochas (campeão dentro da empresa) e jogo de cartas (um bom Truco, uma Escova e uma Canastra vão bem). Nunca procurou aprender a Mora, o Quatrilho e a Brisca. Foi casado durante 43 anos e é viúvo há três anos.
Tem liderança inata, e quando se apercebe, já está presidindo ou comandando Associações (como dos empregados da CAIXA, (APCEF-SC), em 1987), ou criando um grupo de Karatê (em 1976), ou presidindo uma Loja Maçônica (2004), ou uma associação de músicos (FINARTE, 2019) e por aí vai….
Tem três filhas, todas mulheres, sendo que a primogênita lhe deu três lindas netas (Isabella (5), Elyse (3) e Lana Maria (6 meses); as outras duas salvaram a pátria masculina, dando-lhe os netos Pedro Victor (23) e Miguel (03).
Lembrou-se de um colega que também tinha três filhas mulheres e que dizia ¨Só faço o que tenho na cabeça”.
As mulheres, seus olhos, seu sorriso, sua beleza, e os anjos, são a inspiração preferencial do poeta Hélio, ao produzir sua arte, a começar pelo seu primeiro livro, com 30 poemas. O terceiro livro está quase pronto e conterá mais 70 poemas, seguindo a mesma lógica. Ainda tem muitos poemas e crônicas inéditos. O quarto livro deverá contemplar inúmeras crônicas produzidas a partir do dia a dia, da observação da vida.
Já teve muitos sonhos, mas que foram afastados pela falta de recursos financeiros. Na época da Universidade, sonhava em formar-se em Propaganda e Publicidade; jornalista era o ‘sonho dourado’, mas hoje se sente grato por não atuar nessa área, sujeitando-se à editoria (nem sempre coerente) dos meios de comunicação cada vez mais enredados na trama do poder econômico). Queria também ser advogado, mas o horário do curso da época não se encaixava com o do emprego, e não existia essa profusão de cursos que existe hoje.
Sonhava também em comprar uma motorhome e viajar o mundo, sem destino, mas, citando Chico Buarque (que considera um grande poeta): “mas, eis que chega a Roda Viva e carrega o destino pra lá…”
Frases ou autodefinições que Hélio Cervelin adotou para si mesmo:
“Filósofo contemporâneo”;
“Sou um péssimo pessimista”;
“Sou bonito, inteligente e modesto, sendo que a modéstia é minha maior virtude”.
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Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.
