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Mídia sem culpa

Herói vira vilão porque comeu e bebeu com dinheiro do povão

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto de Arquivo

Ao contrário das mídias ou redes sociais, que conectam pessoas por meio de interesses comuns, os meios de comunicação convencional de mão única, isto é, sem possibilidade de interação, não é permitido, por lei, ética, responsabilidade com seu público e, sobretudo, profissionalismo, estimular, produzir e gerar fakes news. Por essa razão, elas “fabricam” muito menos falsos vilões ou heróis de oportunidades. Mesmo assim, os jornais, as revistas, o rádio e a televisão, são, com ou sem razão, acusados de construir personagens positivos e depois, também com ou sem razão, de destruí-los.

De forma didática, a mídia convencional – não confundir jornalismo com teledramaturgia – deve ser definida exclusivamente como o espaço ou o canal onde uma mensagem ou informação é transmitida. Nada mais do que isso. O material veiculado raramente é apócrifo (de autoria duvidosa). Ainda que sejam, as chefias podem ser responsabilizadas por qualquer conteúdo. Nas redes sociais é mais fácil maquiar, inventar e até mesmo recriar fatos conforme a intenção do inventor. Em outras palavras, basta uma mente poluída e mal-intencionada para reconstruir informações e apenas um clique para desconstruir pessoas, instituições ou reputações.

O chefe de governo anterior tinha – e tem – equipes especializadas em criar situações negativas contra adversários. Obviamente que o atual também tem, mas não com o maquiavelismo da produção dos “patriotas”, cujo objetivo maior é o de o gerar estragos às imagens públicas. Fora o mau-caratismo de quem opera no submundo da notícia, não há, em tese, que dizer que o jornalismo convencional é o responsável direto por transformar bons em ruins, honestos em desonestos ou sérios em falseanos. É mais fácil acusar a mídia impressa, radiofônica e televisiva de manipulação de imagens. É puro chilique dos que não conseguem conduzir os verdadeiros laborais de imprensa.

Os jornais, as revistas, as televisões e seus profissionais não têm culpa se as pessoas nascem boas e, por razões de foro íntimo, ficam ruins. É uma questão puramente de livre arbítrio. Todo esse preâmbulo para chegar no deputado federal Pedro Aihara (PRD-MG), herói nascido nas entrevistas coletivas da tragédia de Brumadinho e hoje vilão na mídia nacional. Como porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, ele emocionou o país ao falar do resgate de vítimas. No entanto, independentemente do seu glorioso passado, o parlamentar atualmente é alvo de denúncias inquestionáveis.

No mundo globalizado, não há hipótese de confusão entre o homem e o personagem. Por conta da fama, o tenente Aihara conseguiu fãs, muito espaço na imprensa e acabou eleito deputado federal em 2022. De bonitinho a indigno foi um pulo. Dezessete meses após a posse como representante do povo mineiro, ele reaparece nos jornais, revistas, rádios e televisões como o deputado que recebeu reembolso por bebidas alcóolicas (chopes, vinhos e drinques variados), além de comidas de luxo no Brasil e no exterior. No Japão, ele teria degustado pratos como salmão e bife kobe, um dos cortes mais caros do mundo.

Diz o deputado que devolveu o dinheiro. Se realmente devolveu, o fez porque a maracutaia não colou. Alegar que é vítima de “sensacionalismo, distorção de informações, manipulação de dados e afirmações inverídicas, configurando uma clara ação de perseguição política” é uma tentativa cabotina de querer culpar a imprensa por um fato escandaloso que ele mesmo gerou. O jornalista que apurou a matéria e o jornal que a publicou cumpriram o relevante papel de informar à sociedade o que é verdadeiramente notícia. Se os estragos à imagem do parlamentar são irreversíveis, sugiro que ele procure com urgência um padre para se confessar. Os eleitores mineiros certamente buscarão um novo herói em 2026.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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