Ao contrário das mídias ou redes sociais, que conectam pessoas por meio de interesses comuns, os meios de comunicação convencional de mão única, isto é, sem possibilidade de interação, não é permitido, por lei, ética, responsabilidade com seu público e, sobretudo, profissionalismo, estimular, produzir e gerar fakes news. Por essa razão, elas “fabricam” muito menos falsos vilões ou heróis de oportunidades. Mesmo assim, os jornais, as revistas, o rádio e a televisão, são, com ou sem razão, acusados de construir personagens positivos e depois, também com ou sem razão, de destruí-los.
De forma didática, a mídia convencional – não confundir jornalismo com teledramaturgia – deve ser definida exclusivamente como o espaço ou o canal onde uma mensagem ou informação é transmitida. Nada mais do que isso. O material veiculado raramente é apócrifo (de autoria duvidosa). Ainda que sejam, as chefias podem ser responsabilizadas por qualquer conteúdo. Nas redes sociais é mais fácil maquiar, inventar e até mesmo recriar fatos conforme a intenção do inventor. Em outras palavras, basta uma mente poluída e mal-intencionada para reconstruir informações e apenas um clique para desconstruir pessoas, instituições ou reputações.
O chefe de governo anterior tinha – e tem – equipes especializadas em criar situações negativas contra adversários. Obviamente que o atual também tem, mas não com o maquiavelismo da produção dos “patriotas”, cujo objetivo maior é o de o gerar estragos às imagens públicas. Fora o mau-caratismo de quem opera no submundo da notícia, não há, em tese, que dizer que o jornalismo convencional é o responsável direto por transformar bons em ruins, honestos em desonestos ou sérios em falseanos. É mais fácil acusar a mídia impressa, radiofônica e televisiva de manipulação de imagens. É puro chilique dos que não conseguem conduzir os verdadeiros laborais de imprensa.
Os jornais, as revistas, as televisões e seus profissionais não têm culpa se as pessoas nascem boas e, por razões de foro íntimo, ficam ruins. É uma questão puramente de livre arbítrio. Todo esse preâmbulo para chegar no deputado federal Pedro Aihara (PRD-MG), herói nascido nas entrevistas coletivas da tragédia de Brumadinho e hoje vilão na mídia nacional. Como porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, ele emocionou o país ao falar do resgate de vítimas. No entanto, independentemente do seu glorioso passado, o parlamentar atualmente é alvo de denúncias inquestionáveis.
No mundo globalizado, não há hipótese de confusão entre o homem e o personagem. Por conta da fama, o tenente Aihara conseguiu fãs, muito espaço na imprensa e acabou eleito deputado federal em 2022. De bonitinho a indigno foi um pulo. Dezessete meses após a posse como representante do povo mineiro, ele reaparece nos jornais, revistas, rádios e televisões como o deputado que recebeu reembolso por bebidas alcóolicas (chopes, vinhos e drinques variados), além de comidas de luxo no Brasil e no exterior. No Japão, ele teria degustado pratos como salmão e bife kobe, um dos cortes mais caros do mundo.
Diz o deputado que devolveu o dinheiro. Se realmente devolveu, o fez porque a maracutaia não colou. Alegar que é vítima de “sensacionalismo, distorção de informações, manipulação de dados e afirmações inverídicas, configurando uma clara ação de perseguição política” é uma tentativa cabotina de querer culpar a imprensa por um fato escandaloso que ele mesmo gerou. O jornalista que apurou a matéria e o jornal que a publicou cumpriram o relevante papel de informar à sociedade o que é verdadeiramente notícia. Se os estragos à imagem do parlamentar são irreversíveis, sugiro que ele procure com urgência um padre para se confessar. Os eleitores mineiros certamente buscarão um novo herói em 2026.
*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras