O Dr. Rocha movimentou de forma histórica o mercado imobiliário de Brasília: comprou a casa mais cara já vendida na capital da República por 23 milhões de reais. Fica no Lago Sul. Foi o mimo de fevereiro. Em janeiro, o advogado tinha entrado o ano presenteando a si mesmo com um BeechCraft King Air, ao custo de 2 milhões de dólares, e estreado o avião para levar a família assistir ao cantor inglês Ed Sheeran em São Paulo. E continua sendo visto regularmente em endereços nobres da cidade, que seja para comer, se vestir ou se divertir.
O sucesso do líder de uma das mais prestigiadas bancas de advocacia em tribunais superiores, não surpreende: é neste ramo que se concentram as maiores fortunas de Brasília. O diferencial, neste caso, é que o Dr. Rocha é também o Mister Ibaneis, governador há dois meses.
Na França, para festejar sua vitória na eleição presidencial em 2007, Nicolas Sarkozy levou sua equipe de campanha e uma seleção de amigos a um chiquérrimo restaurante de Paris, o Fouquet´s (cuja celebridade é maior que a qualidade, por sinal). Depois, foi descansar alguns dias no iate de um amigo, o bilionário Vincent Bolloré. Àqueles que o criticaram por “esbanjar”, o agora ex-presidente francês retrucou que não queria ser hipócrita.
Disse Sarkozy que não ia esconder-se para levar o mesmo estilo de vida que tinha antes da eleição, como outros governantes tinham (e ainda têm) o costume de fazer. Mas para ele a história não terminou muito bem. A crise de 2008 atingiu duramente a Europa, e Sarkozy ficou desconectado da realidade de aumento do desemprego e até mesmo da pobreza. O que era franqueza virou insensibilidade.
O que Ibaneis Rocha faz com seu dinheiro pode animar as colunas sociais, mas quando se trata do governador, todos precisam ficar de olho, porque o caixa é de todos nós. Os dois primeiros meses de atuação direta do chefe do Buriti foram muito ativos. Em várias direções. E seguem a filosofia de crescimento que o candidato expôs durante a campanha: baixar, ou no mínimo não aumentar, os impostos para arrecadar mais. E, com mais recursos, investir mais. É o mote que garantiu a Ibaneis sua vitória eleitoral em todas as regiões do Distrito Federal, exceto no Plano Piloto junto aos servidores públicos federais.
Olhando do lado das receitas, por enquanto o compasso é de espera. Janeiro foi regular, com forte aumento do ICMS, contrabalanceado por uma redução de arrecadação do ISS. Resultado: estagnação fiscal. A campanha do IPVA que começa (com as mesmas alíquotas que em 2018, enquanto as próximas serão revisadas para baixo, se a Câmara Legislativa deixar) mostrará se há melhora na capacidade tributária do governo brasiliense.
No tocante aos investimentos, a máquina já foi lançada. Dezenas de licitações são anunciadas, em várias áreas. Março foi decretado como o mês limite para ocupação do Centrad, elefante branco herdado do governo Agnelo que passou a gestão Rollemberg no ponto morto. Treze mil servidores do GDF deverão ocupar o complexo, dinamizando o comércio da região.
De posse dos números, Ibaneis está inclinado a optar pela solução mais econômica: que o GDF compre o prédio, por R$ 1 bilhão, ao invés de alugá-lo por R$ 280 milhões ao ano. Ainda mais porque se os muros foram construídos pelo consórcio Via Engenharia/Odebrecht, o terreno continua público. O aluguel parece extremamente prejudicial ao Erário. E a parceria é objeto de mais de 50 processos. Ocupar primeiro, resolver depois, indicou o governador.
A pressa tem também outro motivo: a Caixa Econômica Federal tem empréstimos para o DF em sua carteira, de mais de R$ 3 bilhões, mas só pretende liberar quando o assunto Centrad for, se não resolvido, pelo menos encaminhado numa direção.
Do ponto de vista das despesas, o Buriti também deu pontapé às demandas salariais do funcionalismo. Começando pelo setor de segurança pública. Ibaneis sabe onde está metendo o dedo: numa engrenagem que vai varrer o primeiro semestre. Por ter atuado como advogado de sindicatos de servidores, ele está acostumado ao ritmo e aos ritos das negociações de pautas de reinvindicações.
Agora do outro lado do balcão, Ibaneis terá seu primeiro teste político com interesses poderosos, principal fonte de despesas do GDF e com impacto direto no atendimento à população. E, por tabela, na popularidade do governante.
Se o estilo de vida do Dr. Rocha lembra o do francês Nicolas Sarkozy, que o governador Ibaneis também siga a declaração do político francês na noite de sua eleição: “Vamos escrever uma nova página da história. Não vos trairei. Não vos mentirei. Não vos decepcionarei”.
É esperar para ver.