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Histórica divisão dos políticos não leva o Brasil a lugar algum

Está claro que, se a esquerda falhou, a direita não conseguiu sequer dizer a que veio. O governo do capitão Jair Bolsonaro ora derrete, ora sangra. Na prática, está se desmilinguindo. Do outro lado, Luiz Inácio lidera todas as pesquisas de intenção de votos, mas não consegue fugir dos alarmantes índices de rejeição. É uma guerra surda, suja e, às vezes, até companheira, pois, de acordo com as conveniências, envolve o roto e o esfarrapado, o ruim e o pior, o populista e o golpista. Esse “companheirismo” oportunista dos extremos ficou latente nas recentes e fracassadas intenções de fragilização do Ministério Público, de abrandamento dos critérios de improbidade administrativa e de ataque às prerrogativas da Justiça Eleitoral.

Exemplo disso é a derrota (ainda não concretizada) da PEC concedendo mais poderes ao Congresso para interferir na estrutura do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Apresentada pelo deputado petista Paulo Teixeira (SP), a proposta foi bancada pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), como se sua fosse. Normalmente contrário aos anseios da população, Lira se associou ao PT e a um leque de legendas à esquerda e à direita no combate aos que combatem a corrupção. A ideia é minar qualquer proposição externa que vise ao controle dos mandarins políticos. Ou seja, agem na contramão do desejo majoritário da opinião pública. Depois de uma série de passos à frente contra os maus políticos, parece que os representantes do povo resolveram andar como caranguejos.

Por essa razão, entre o oceano e o rochedo, milhões de mariscos são contrários à mesmice empalhada. Faço parte dos que torcem por uma candidatura com força para romper esse círculo pra lá de vicioso. Por isso, não acho nenhuma aberração afirmar que as forças políticas e sociais que não se identificam com a polarização são capazes de pavimentar uma nova via para disputar e vencer as eleições de 2022. Pelo andar da carruagem, talvez o ideal seja colocar o verbo ser na conjugação pretérita. Não há dúvida de que a chamada terceira via incomoda os dois potenciais candidatos, especialmente o atual ocupante do Palácio do Planalto. Todavia, o grupo que já se lançou ao mar incorre no mesmo histórico erro da esquerda: a divisão. Prova disso é que o União Brasil, partido recém-criado a partir da fusão do DEM com o PSL, já tem cara de velho.

Com pelo menos dois postulantes à Presidência da República – Luiz Henrique Mandetta e José Luiz Datena – a nova legenda traz em seu bojo nomes de antigos conhecidos do eleitorado nacional e até dos tribunais (raposas). A lista é extensa, mas os destaques são Luciano Bivar, ACM Neto, Agripino Maia, Ronaldo Caiado, Heráclito Fortes e Pauderney Avelino. A situação não é muito diferente nas demais siglas. Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG) pulou do DEM para ser candidato à sucessão do mito pelo PSD de Gilberto Kassab, ex-prefeito paulistano e ex-ministro de Dilma Rousseff. Além desses, integram a via opcional os tucanos João Dória (SP), Eduardo Leite (RS) e Arthur Virgílio Neto (AM), o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Alessandro Vieira (Cidadania) e Luiz Felipe D´Ávila (Novo).

São 11 nomes de diferentes correntes na corrida pela primazia de uma terceira via de centro. Correm o risco de nenhum deles conseguir dobrar a primeira esquina. Ou seja, é uma emaranhado que dificulta a escolha de um meio termo entre a suposta pilhagem dos cofres públicos e a crueldade do moço que veta a distribuição de absorventes a mulheres pobres. Nesse balaio de fichas, a tendência é que sobre mesmo para a polarização. Isso ocorrendo, é triste, mas somos obrigados a reconhecer que Bolsonaro é sincero e claro ao negar seus semelhantes, desdenhar a crise e defender a destruição. Faz parte do seu DNA há pelo menos 30 anos. Da mesma forma, temos de acreditar na inocência de Luiz Inácio quando ele diz que a cobertura do Guarujá e o sítio de Atibaia realmente não são seus. Afinal, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal, quem fez toda a bandalheira foi o juiz.

É como no futebol, onde o juiz é sempre o responsável pelas derrotas. Por falar no juiz, faz tempo ele sumiu e ainda não explicou o que realmente ocorreu na 13ª. Vara Federal de Curitiba, onde Lula foi julgado, condenado e encaminhado à prisão. O que parece claro é que parte expressiva do eleitorado brasileiro não quer Lula nem Bolsonaro, embora prefira Lula a Bolsonaro. Por enquanto, qualquer análise sucessória é para encher linguiça. É natural que, até o encerramento dos registros de candidaturas, apareça uma ou mais chapas que atendam ao Brasil conservador, desde que sem os extremismos bolsonaristas. Ela ou elas poderiam aliar parte da direita e do centro e incluir vestais da esquerda. Da boca pra fora, Bolsonaro diz temer a candidatura de Rodrigo Pacheco. Da boca pra dentro, ele teme todas, inclusive a do senador Jorge Kajuru, que a qualquer momento pode ser lançado candidato do cerrado.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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