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Holmes e Bond criam ouvidos hilários em paredes trincadas

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Lançaram grampos no Palácio do Buriti. Quem foi, ninguém sabe, ninguém viu. E se gravaram, não se ouviu. A notícia soa como uma obra de ficção produzida por Conan Doyle, para ter roteiro adaptado por Ian Fleming. Algo sem pé nem cabeça, como se criado por uma mente com Alzheimer e escrita por mãos com Parkinson.Talvez fruto da defasagem de tempo entre Sherlock Holmes e James Bond.

A história é hilária, embora pretendessem fazer terrorismo. Ouvidos com otite aguda captaram informações truncadas e transmitiram com a velocidade da internet algo que não vale andar a 500 kb. Acredita-se que inalaram alguma coisa e imaginaram outra.

Consultado por Notibras, Henry Katsberg, especialista em contra-informação, sintetiza uma posição já conhecida desde os fins do último século: a época é de internet, de tecnologia de ponta; portato, grampo virou coisa ultrapassada. E, pior. A autorização judicial para esses casos demora tanto, que na maioria das vezes os alvos não têm mais razão de ser.

Microfone sob a mesa existiu até o derradeiro episódio de 007 lançado nas telonas e reprisado nas telinhas. E isso faz tempo. É tão fantasioso quanto imaginar Holmes substituindo seu cachimbo por um cigarro eletrônico.

Em tempos modernos (que não os de Chaplin) há duas questões que mandam os grampos para o espaço. Se, de um lado, sons praticamente inaudíveis impedem a captação de conversas, de outro, a punição para quem pratica grampo é de 6 anos de cadeia.

As paredes do Buriti, trincadas desde o governo de Agnelo Queiroz, não sustentam mais equipamentos de gravações clandestinas. Isso está ultrapassado. Hoje as fontes de informação são abertas. O trabalho de inteligência é feito com base em fontes confiáveis, tanto quanto jornalismo. A informação tem de ter procedência. E para ser publicada, deve ser checada com outras fontes.

Katsberg lembra que um dado não confirmado se transforma em informe. Só vira informação quando é devidamente interpretado como conhecimento pelo pessoal da inteligência.

Na fase de cofre vazio, como está vivendo o Palácio do Buriti, pensar em maleta de espionagem é querer levar os anéis, deixando as digitais à mostra, mesmo sabendo que outros dedos ficarão intactos.

Hélio é jornalista experiente. Começou a fazer entrevistas quando não se utilizava gravador. Acostumou-se a esse tipo de trabalho e assim permanece. Miguel, jornalista por amor às letras, fez Direito e virou delegado para consertar as coisas erradas.

Querer intrigar Hélio, Miguel, Renato, Rosso e mais de uma dezena de deputados distritais é coisa de quem pretende ver a coisa russa. A pessoas assim precisa ser dito que Holmes e Bond nasceram em Londres. Aliás, bem distante de Moscou.

José Seabra

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