Notibras

Homem, luz, vida, sombra e girassóis são multiplicados por Deus em sete poemas

Deus

é a identidade
do que cremos
oposto ao breu

—-

a sombra

até estica o escuro
das roupas no varal
mas sem ela
não saberíamos
a medida da luz

—-

aspiro a eternidade
porque hei de morrer

devo ser lembrado
em registro material
Verbo
carne estraga

ainda assim
devo servir para alimentar
algo carnívoro
dentro de ti

por isso salivas

—-

multiplicai-vos

se o vinho sorve
o verbo cresce
umedece a boca
escorre

e entre carnes
o filho
cheio de espírito
vira pai

—-

girassol

é poema
por si
sol

—-

Glossário de poema

Poema: apanhado de frases escritas por um sujeito que servem a um fim próprio, indeterminável até a sua leitura. A partir de quando beija flor.

Apanhado: junta tudo senão apanha

Frases: palavras cravadas que podem conter crases sem asas ou ases, que iniciam maiúsculas blefando, mas seguem direção própria em linha imaginária no vazio e completam (e contemplam) sua existência até um ponto final.

Escritas: pinturas em criptas, criptografadas, garfadas, engarrafadas, com garra por fadas.

Sujeito: ah, esse tem peito (e jeito).

Servir a um fim próprio: desserviço do seu início.

Indeterminável até sua leitura: interminável até no fim.

Beija flor: este sim, o poema.

——

déjà vu

é o que rebobina a sina
para perfumar de passado
o futuro do presente
que acontece e tece
o novo de novo
do já visto

………………………………

Guilherme é carioca, nascido em 1986, e se encontra na poesia desde a adolescência. Advogado de direito administrativo formado pela UFRJ, psicólogo pela Estácio e poeta pela vida. Em 2024, deu vazão aos seus escritos com o lançamento do livro “Esta leitura é gratuita” pela Editora Patuá. Desde então, alimenta um perfil do Instagram dedicado à poesia independente (@guiesuaspoesias).

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