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Homem sozinho no Brasil não serve sequer para ser corno

Sem sonhos, a vida não tem brilho. Sem metas, os sonhos não têm alicerces. Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais. A bem da verdade, sonhos nem sempre são empreendimentos. Como lembra Paulo Coelho, o mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de sonhar e de correr o risco de viver e dividir seus devaneios. Eu tenho em mim todas as ficções do mundo. E, vez por outra, lembro de Bob Marley baforando em meus ouvidos: “O sonho de um careta é a realidade de um maluco”. Sou um pouco dos dois. Por isso, consigo ser alguma coisa mais inteligente quando, mesmo acordado, me pego sonhando. Sem a necessidade de dormir, escolho com o que sonhar, não preciso de plateia e normalmente sugiro para o subconsciente que tipo de fantasia quero me meter.

Tenho me preocupado bastante com o que venho sonhando nos últimos tempos. Não lamento, mas sinto que estou envelhecendo, pois até meus sonhos eróticos são reprises. Talvez seja a idade a principal razão para eu assumir de vez uma das máximas de Mahatma Gandhi, para quem acreditar em algo e não vivê-lo é desonesto. Não tenho dons, mas sou intenso na busca da criatividade e da sabedoria, sejam elas para conhecimento pessoal ou para repasse por meio de alguns escritos despretensiosos. O tempo me ensinou, por exemplo, que as cabeçadas afetivas, emocionais e profissionais são um aprendizado. Perdemos o anel, mas fica o couro. A certeza da vida é que nem sempre molhamos o biscoito em embalagens perfumadas e gostosas.

O pior é quando percebemos que a mandioca descrita como a mais exuberante do pedaço é, na verdade, a metade daquela que o figurante ostenta para a moça que nos engana com o cuscuz. Em minhas andanças pelas variadas teses da vida física, descobri que o amor é a força mais abstrata e sutil do mundo e, principalmente, que o chifre é igual a caixão de defunto: um dia cada um terá o seu. Tive certeza disso em recente passagem pelo litoral pernambucano, onde assisti a ensaios de pelo menos dois blocos carnavalescos, ambos criados para acalentar cornos convictos, assumidos, desconfiados, violentos e até felizes. Por questões meramente fantasiosas, não são aceitos cornos com desvios de conduta sensorial, isto é, aqueles que, após os chifres, saem às ruas à procura de um parceiro para formar uma nova dupla sertaneja.

Claro que a afirmação de que um dia todos sentiremos a testa arder nada tem de futurologia. É apenas para lembrar que todos estamos sujeitos a isso e que o pior inferno é aquele que criamos em nossa cabeça. Para acalmar os irmãos que insistem em não se curvar às teorias dos guampos, vale o registro de que o dito cujo é igual a assombração, pois normalmente aparece para quem tem medo. Independentemente de ter ou não experiência com os galhos, sigo as leis da divisibilidade e elas garantem que um homem sem chifre é um animal desprotegido. Como uma coisa leva a outra, lembro de uma cobertura jornalística sobre galhada que, por desconhecimento da procedência do protagonista, quase acaba em tragédia. O ator principal da silenciosa safadeza era um grande empresário do eixo Rio-São Paulo, mas que circulava com frequência por Brasília, onde ficou sabendo que a patroa não era tão séria como afirmara durante as bodas de madeira, ou seja aos cinco anos de casamento.

Imediatamente contratado, o detetive constatou a libertinagem logo na primeira tocaia. Anotados o nome do motel e número da suíte onde ocorria a saliência, era fundamental a presença de um delegado e de um escrivão de polícia. Na época, flagrante de adultério era importante no momento da divisão de bens. O problema é que ninguém foi apresentado a ninguém. Delegado, escrivão, detetive e cornudo chegaram ao local da vadiação exatamente na hora do vuco-vuco. Armado com um trintoitão, o sujeito tirou as tarraxas do chifre, mirou no casal e, a segundos de apertar o gatilho, se assustou com os gritos do meganha: “Meu Deus, segura o corno, segura o corno”. Foi por um triz. Não sei se é verdade, mas, depois de acalmado, o tal empresário, como bom carioca da gema, teria dispensado a segurança, tirado a roupa e formado o que hoje chamam de trisal. Dizem que a festa durou três dias sem parar. O resumo da ópera é que o homem sozinho não é nada. Nem corno.

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