As montadoras, como qualquer empresa, fazem produtos para as massas de modo a manter a sobrevivência do negócio. Mas a maioria tem também criações para agradar os puristas e, quiçá, frequentar a garagem de seus engenheiros e executivos de alto escalão. Uma dessas obras de arte sobre rodas é a versão 2017 do Type R, a mais venenosa do hatch da Honda de todos os tempos.
O esportivo faz parte da décima geração do Civic, que já é oferecida no Brasil – a opção hatch nunca foi vendida aqui. Com motor 2.0 turbo a gasolina de 320 cv e 40,8 mkgf, o Type R tem tração na dianteira e câmbio manual de seis marchas – os responsáveis pelo projeto sequer cogitam opção automática.
A Honda do Brasil quer trazer uma ou duas unidades ao Salão do Automóvel, que ocorrerá em São Paulo de 8 a 18 de novembro, e iniciar as vendas em seguida. A meta é emplacar 50 Type R nos primeiros 12 meses e dez por ano a partir daí. Somente serão trazidas unidades efetivamente vendidas – não haverá carros expostos nas lojas.
O Type R será mais que um produto de nicho. Seu principal objetivo é rejuvenescer a imagem da Honda no Brasil, que está muito ligada a produtos com boa qualidade, mas que oferecem pouca emoção ao volante, como o próprio Civic e o HR-V.
Depois de acelerar o hatch no Sodegaura Forest Raceway, autódromo a cerca de uma hora de Tóquio, ficou claro que o esportivo cheio de veneno é puro prazer ao volante. Tanto que o Honda bateu o recorde para carros com tração na frente no circuito de Nürburgring Nordschleife, na Alemanha.
Aliás, o Type R é mais europeu que japonês. O hatch é produzido na fábrica da Honda em Swindon, na Inglaterra. Nos arredores ficam a Mini, a 53 km (Oxford), Aston Martin (Gaydon) e a Morgan (Malvern), ambas distantes cerca de 100 km.
O esportivo parece ter saído de um videogame. A carroceria é repleta de vincos e, na dianteira, destaca-se o “H” com fundo vermelho. É a mesma cor da faixa fina que percorre toda a parte inferior do modelo (há saias na frente, laterais e traseira).
Atrás, um enorme aerofólio chama a atenção, mas reduz a visibilidade pelo espia. Abaixo dele há outro defletor de ar, que forma um conjunto harmonioso com as lanternas. A cereja do bolo sãs as três saídas de escapamento no meio do extrator.
O Type R é mais leve e tem carroceria 38% mais rígida que o anterior, a despeito da adoção de novos reforços estruturais. A suspensão dianteira, do tipo MacPherson, tem nova geometria e foi recalibrada para, segundo informações da Honda, reduzir o subesterço da direção e melhorar as respostas. Atrás há sistema independente, do tipo multi-link, com novos braços.
A cabine tem ótimo acabamento, que inclui couro, metal escovado e detalhes vermelhos, cor de parte dos revestimentos dos bancos. Os dianteiros, além de muito confortáveis, têm abas largas que mantêm o corpo do motorista firme mesmo em curvas muito rápidas.
Há três modos de condução, que ajustam a rigidez dos amortecedores, o “peso” da direção e as respostas de câmbio e motor. A Comfort é para o dia a dia, a Sport é indicada para quem quer mais pimenta em estradas e a +R, que ficou acionada o tempo todo, é para as pistas.
A Honda divulga aceleração de 0 a 100 km/h em 5,7 segundos e 277 km/h de velocidade máxima, mas a sensação é que o Type R rende mais que isso. O 2.0 entrega potência e força desde as rotações baixas – o torque máximo surge às 2.500 rpm.
Parece que seu fôlego não tem fim. É mais que uma impressão: o corte da injeção eletrônica só é feito aos 8 mil giros.
O Type R fica firme mesmo se o motorista abusar do acelerador nas saídas de curva. Mérito também dos sistemas eletrônicos, como os controles de tração e estabilidade, e dos largos pneus nas medidas 245/30 R20.
Entre os requintes, o ronco do motor varia automaticamente. A saída central do escape “abre” quando o Civic está andando forte e deixa o som “rouco” e para lá de instigante.