Apesar do descaso e da pouca ou nenhuma importância dada aos fatos que protagonizaram em 8 de janeiro de 2023, os “patriotas” estão incomodados com os atos marcados pelos democratas para lembrar o quebra-quebra promovido pelo bando de loucos pelo poder na Praça dos Três Poderes. Não há clima para festas. Entretanto, fará bem ao povo relembrar a destruição causada exclusivamente pela antipatia de alguns maus brasileiros à liberdade de pensamento, de escolha e de consciência da maioria.
A alegria em substituição ao luto daquele dia fatídico servirá para mostrar aos mais jovens que uma alma feliz é o melhor escudo para um mundo de crueldade. E pouco importa que, para alguns dos defensores ou apoiadores da selvageria, entre eles o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), o nada que poderia ser tudo transforma barbárie em brincadeira de criança. Por isso, para esses alguns o ato simbólico convocado pela Presidência da República para esta quarta-feira é uma “exaltação ao nada”. Para sorte do Brasil e do povo brasileiro, o tudo sonhado por eles melou, babou como o quiabo malfeito.
Ficou o nada ao lado do nada que eles representaram por quatro anos. O pesado custo da reconstrução das sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário também não foi nada diante da catástrofe que significaria o sucesso do que eles não tiveram competência de realizar. Os marcados para morrer estão vivos e, em breve, poderão assistirão de camarote ao desfecho justo para o plano injusto e maquiavélico que só deu errado por causa de las manos de Dios. Trata-se de uma falácia dizer que a baderna e o vandalismo não tiveram “nenhum potencial ofensivo real”. É a tática daqueles que optam por omitir informações em seus discursos formais e informais.
Pior ainda é culpar o atual governo por não ter interrompido os atos antidemocráticos dos simpatizantes do bolsonarismo. Mais uma falácia, pois, bastam dois segundos de consulta à memória para lembrar que, ao contrário do que consta nas cadernetas dos extremistas, o dia escolhido para invadir os prédios do STF, do Congresso e da Presidência foi previamente combinado. Como não havia expediente, a surpresa acabou sendo a forma mais fácil para os oportunistas responderem com eficiência à missão superior.
Portanto, além de covarde, a ação criminosa dos vândalos foi facilitada principalmente pela ausência do presidente da República que cumpria agenda oficial na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. No fim e ao cabo, o nada que eles não conseguiram transformar em tudo só confirmou o combinado ao longo da semana de ameaças de invasões sonorizadas por mais de mil alto-falantes fincados de Norte a Sul do país. Realmente de nada adiantou a exaltação do 8 de janeiro com a retomada do poder que haviam perdido democraticamente.
Que as comemorações de quarta-feira não se transformem em festa ideológica. Lembrar do 8 de janeiro como o Dia em Defesa da Democracia deve ser o limite. Mais do que isso é descer ao mesmo nível dos que deveriam estar envergonhados pela barbárie que produziram. Deveriam, mas não estão e provavelmente jamais estarão, pois, para eles, ganhar no grito e sujar a imagem do Brasil no mundo não é nada. Para os demais brasileiros, dependendo do referencial, tudo e nada são as mesmas coisas. Tem gente que faz de tudo para que o nada nunca seja lembrado. Como não podemos exigir dos outros qualidades que ainda não têm, pensemos que tudo está ótimo, mas, com trabalho, paz, amor e liberdade, tudo pode ser melhorado.
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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978