Notibras

Hora de discutir como tratar libido após o parto

Atenção, mulheres, que este é um assunto que merece ser debatido. É que no período após o parto, conhecido como puerpério, o corpo da mulher passa por diversas alterações físicas e, principalmente, hormonais. A prolactina, hormônio que favorece a produção de leite, interfere muito na sexualidade de uma mãe.

A ginecologista, obstetra e especialista em saúde sexual, Erica Mantelli, explica que ocorre uma diminuição de hormônios como HCG, progesterona, estrogênio e a testosterona que, aliados ao cansaço, restrição do sono, e fatores emocionais, podem diminuir a libido e a lubrificação vaginal.

Foi o que aconteceu com Luana**, de 35 anos, que, depois de dar à luz Eduarda**, no dia 31 de agosto de 2019, teve o seu puerpério prolongado devido à pandemia e ficou praticamente nove meses sem ter relações sexuais com o seu parceiro.

Por quatro meses e meio, a filha de Luana teve muitos problemas pra dormir, como cólicas intensas e refluxo com queimação. A privação do sono aliada à exaustão da amamentação fizeram a jornalista se sentir depressiva irritada e, principalmente, culpada.

“Eu chorava praticamente todos os dias. Eu amava estar com a minha filha, mas me sentia muito cansada. Aquele clichê ‘quando nasce um filho, nasce uma culpa com a mãe’ foi a mais pura verdade para mim. Muitos dos desconfortos que a Eduarda tinha, o fato dela dormir mal, me faziam achar que eu estava fazendo algo de errado”.

Sua libido também foi afetada, o que, de início, não era motivo de preocupação, pois o marido dividia as dificuldades e também não sentia vontade de fazer sexo. Porém, depois de seis meses, Luana começou a se sentir culpada novamente, só que dessa vez por não conseguir retomar as relações sexuais.

Resguardo sexual
A ginecologista Erica afirma que, independente se o parto foi normal ou cesariana, é indicado um período de resguardo sexual de trinta dias. “Nesses primeiros momentos, o colo do útero ainda está aberto e ocorre um sangramento para ter uma limpeza natural de dentro para fora. Ter relações com penetração poderia colocar em risco a saúde da mulher, podendo causar infecção puerperal e até infecção generalizada”.

Luana conta que sua libido voltou quando ela estava parando de amamentar, aos nove meses da filha. Já as relações sexuais com o companheiro retomaram depois que a sua mãe passou a ficar com a Eduarda em alguns domingos. “Isso foi um marco importante na retomada da nossa intimidade, de entender que a gente ainda era um casal e não apenas os pais da Duda”, revelou.

Para a psicanalista e fundadora do Núcleo de Sexualidade Positiva e Bem-Estar Prazerela, Mariana Stock, é importante entender que, no puerpério, toda libido e energia da mulher está focada no seu bebê e na amamentação.

“O que essa mulher precisa é de respeito, tempo e acolhimento. A libido vai se restabelecer para outras funções como a sexualidade, depois que a mulher já estiver se sentindo fortalecida emocionalmente junto ao seu bebê”, explica.

Além disso, não se deve comparar o sexo pós-parto com o que era antes, uma vez que trata-se de uma nova realidade, que vai impactar na relação da mãe com o seu corpo e seu parceiro ou sua parceira.

Tendo isso em vista, quando o casal decidir que está pronto para o sexo com penetração, Stock dá algumas dicas para que ambos tenham prazer na relação sexual após o parto:

Mariana explica que, antes de pensar em sexo, as mulheres deveriam investir em um maior autoconhecimento e educação sobre o próprio corpo, emoções e sensações. “Se ela não está disposta a olhar para sua sexualidade e se rever, irá cair nos mesmos gatilhos de se sentir na obrigação de transar, de achar que transar com dor é normal, etc.. Esses absurdos que vão sendo institucionalizados têm muito a ver com uma falta de conhecimento sobre a própria sexualidade”.

Segundo ela, é muito comum que as mulheres tenham uma relação traumática com sexo, devido a uma “educação fruto de uma sociedade machista, voltada para um olhar falocêntrico e heteronormativo”, fazendo com que muitas mulheres nem sequer conheçam o próprio prazer.

“A gente nunca aprendeu o que é ser a gente na nossa própria pele e eu sinto que a maternidade só potencializa isso. Urge que nós tenhamos novas formas de saber mais sobre nós mesmas. Antes de querer ser boa pro outro, precisamos ser boas para nós mesmas”, afirma.

Sair da versão mobile