A Filosofia Alquímica (Parte 2)
Hora de seguir os rumos da purificação, iluminação, sabedoria e realização
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emA filosofia Alquímica se baseia na ideia de que tudo no universo é interconectado e possui uma correspondência entre os planos material e espiritual. O famoso axioma hermético “Como acima, assim abaixo; como dentro, assim fora” resume essa visão integral dos multiversos. A Alquimia busca compreender e operar essa correspondência para alcançar a harmonia universal. Os alquimistas consideram o mundo e o universo, como uma manifestação do Uno, ou a unidade primordial, fragmentada em múltiplas formas e expressões.
Portanto, a prática alquímica é uma busca pelo retorno à unidade original, simbolizada pelo conceito de Opus Magnum. Conhecido como a Grande Obra, é um dos conceitos centrais da alquimia e simboliza tanto o processo de transmutação material quanto a jornada espiritual do alquimista. Ele descreve um caminho complexo de transformação que reflete a busca pela Pedra Filosofal, que, simbolicamente, representa a perfeição, a purificação e a iluminação.
Embora seja comumente associado à transmutação de metais “não nobres” (como o chumbo) em ouro, o Opus Magnum também tem um significado filosófico e espiritual, sendo interpretado como o processo de elevação e integração do ser humano. Esse processo é frequentemente dividido em quatro fases principais, embora algumas tradições apresentem variações. Essas fases do Opus Magnum estão associadas a processos alquímicos, psicológicos e espirituais. Cada uma tem seus significados e simbolismos, vamos a eles:
Nigredo (Obra Negra) – Purificação
É o estágio inicial, caracterizado pela dissolução, putrefação ou decadência. Representa a decomposição do material bruto para eliminar impurezas. É simbolizado pela escuridão, morte ou caos, onde o alquimista confronta a sombra e a desordem. Espiritualmente, representa o confronto com o inconsciente e a análise mais profunda da alma para iniciar os processos de purificação. Psicologicamente, está associado ao reconhecimento e à integração das partes sombrias da psique (Jung relacionou isso ao trabalho com o inconsciente). Seu elemento: Terra. Tanto na perspectiva emocional quanto na alquímica, carrega significados profundos e simbólicos.
Vamos explorar algumas dessas dimensões. Ela é associada à sensação de estabilidade, solidez e segurança. Emocionalmente, representa a necessidade de enraizamento, de sentir-se firme e seguro em meio às turbulências da vida. Mas, suas transformações são lentas e constantes. Isso simboliza a paciência e a persistência necessárias para cultivar objetivos de longo prazo e enfrentar desafios com resiliência.
Por ser a fonte de toda a vida, fornecendo nutrientes e sustento, ela representa o cuidado, a nutrição emocional e a capacidade de sustentar a si mesmo e aos outros. Nos conecta ao mundo material e à natureza. Emocionalmente, pode evocar um sentimento de gratidão pela vida e pela abundância que o mundo natural oferece. Conectada ao mundo físico e concreto simboliza a capacidade de lidar com a realidade de forma prática e objetiva, sem se perder em devaneios ou ilusões. Na alquimia, a Terra é um dos quatro elementos clássicos (junto com Água, Ar e Fogo). Representa a matéria sólida, a forma física e a concretização. É o elemento que dá forma e estrutura à vida. Está associada ao processo de transformação alquímica, especialmente na fase da “nigredo” (a obra ao negro), onde a matéria é decomposta para ser purificada e reconstruída. Simbolicamente, isso representa a morte do velho e o renascimento do novo.
O interessante é que a Terra é o estágio final da Grande Obra alquímica, onde o ouro filosófico (a realização espiritual) é alcançado, quem sabe nos remetendo ao Oroboros. Ela representa a materialização do espírito, a união entre o celestial e o terreno. Associada ao corpo físico e à matéria densa simboliza a necessidade de equilibrar o espiritual com o material, reconhecendo a importância do mundo físico na jornada de transformação. Associada à figura da Mãe Terra ou Gaia, representa a fertilidade, a criação e o ciclo de vida, morte e renascimento. Na alquimia, isso se reflete no processo de transformação contínua e na conexão com os ciclos naturais. Observe que a Terra, tanto emocional quanto alquimicamente, é um símbolo poderoso de estabilidade, transformação e conexão com o mundo material. Ela nos lembra da importância de estarmos enraizados, de cuidarmos de nós mesmos e do mundo ao nosso redor, e de reconhecermos a beleza e a sabedoria presentes nos processos naturais de vida e morte.
Albedo (Obra Branca) – Iluminação
Simboliza o final da purificação e o início da clareza. É o renascimento após o caos, onde o material é “lavado” e torna-se puro. Representado pela cor branca e pela luz da lua, simboliza o despertar da consciência. Espiritualmente, reflete a purificação dos desejos mundanos e a busca pela iluminação. Psicologicamente, representa o despertar do inconsciente e a busca por equilíbrio entre os opostos (mente consciente e inconsciente). Seu elemento é a água pois, carrega diversos significados emocionais e simbólicos em diferentes culturas, contextos e interpretações pessoais.
É associada à limpeza e purificação, tanto física quanto espiritual simbolizando a renovação, a capacidade de começar de novo ou se livrar de cargas emocionais. Esse simbolismo é tão forte que a água é usada em rituais religiosos representando o renascimento ou purificação espiritual, tanto em cerimonias de batismo, ablações e sepultamentos. Devido a sua natureza fluida e mutável está relacionada às emoções humanas. Sua capacidade de mudar de estado (sólido, líquido, gasoso) simboliza transformações e mudanças, bem como sua capacidade de assumir a forma de qualquer recipiente e de contornar obstáculos. Simboliza resiliência e adaptação, refletindo crescimento e evolução pessoal, além de inspirar uma abordagem fluida e leve para enfrentar os desafios da vida.
Sua calmaria reflete paz e tranquilidade, enquanto suas tempestades simbolizam turbulências emocionais. A água parada, como em um lago ou rio tranquilo, é associada à serenidade, introspecção e paz interior. Ela nos conecta ao momento presente, promovendo relaxamento e meditação. Oceanos e mares profundos evocam mistério, o desconhecido e a vastidão que podem ser traduzidos em nossa própria profundidade interior ou em questões não resolvidas. Por ser essencial para a vida simboliza nutrição, crescimento e fertilidade. Em um nível emocional, pode remeter ao cuidado, à proteção e ao suporte. Como a chuva ao evocar sentimentos de esperança e rejuvenescimento, a água conecta todos os seres vivos por meio de rios, oceanos e ciclos naturais. Simboliza a interdependência e a unidade, trazendo sentimentos de pertencimento e conexão com o todo. No inconsciente coletivo, a água pode representar o mundo emocional profundo, como sonhos, sentimentos e intuições.
Citrinitas (Obra Amarela) – Sabedoria
Marca o início da transformação do material purificado em algo mais elevado, trazendo a iluminação e a sabedoria espiritual. É simbolizada pela cor dourada ou amarela, associada ao nascer do sol e à consciência plena. Espiritualmente, representa o florescimento da alma e a unificação com princípios superiores. Psicologicamente, é o momento de amadurecimento, onde o ego se torna mais alinhado com o Self (o núcleo da psique, segundo Jung). Seu elemento: Ar.
O elemento Ar tem significados profundos tanto no campo emocional quanto na Alquimia. Emocionalmente, o Ar está associado ao reino do intelecto, comunicação, ideias e liberdade. Representa a mente e a capacidade de analisar, com racionalidade e lógica, as emoções antes de reagir. Traz flexibilidade e adaptação, ensinando a não se prender excessivamente a emoções pesadas. Estimula, através da curiosidade e criatividade, o pensamento abstrato e a busca por conhecimento. Relacionado com a comunicação e a troca de ideias, quando equilibrado traz clareza mental, inteligência emocional e expressão fluida, mas, quando em excesso, pode levar à frieza, distração, ansiedade e superficialidade. Na Alquimia, o Ar é um dos quatro elementos clássicos e está ligado ao princípio da transmutação e elevação da consciência. Simbolicamente é representado por um triângulo apontando para cima, cortado por uma linha horizontal (🔺 com uma linha no meio).
Tem por associação planetária Mercúrio (o mensageiro, símbolo do intelecto e da comunicação). Associado ao corpo, relaciona-se ao sopro vital (prana), respiração e pensamento. É o elemento de transformação, que move e acelera os processos alquímicos. Representa o poder da mente para transformar a realidade. Relaciona-se ao Éter e à espiritualidade, sendo um meio de conexão entre os mundos material e sutil. O domínio do Ar na Alquimia é essencial para alcançar o conhecimento e a iluminação, pois ele carrega o poder do pensamento e da comunicação com o divino. O Ar simboliza tanto o intelecto e a comunicação no nível emocional quanto a elevação espiritual e a transformação na Alquimia. Ele ensina que o pensamento e a respiração são ferramentas de evolução e que a liberdade mental é a chave para o crescimento.
Rubedo (Obra Vermelha) – Realização
É o estágio final, simbolizando a completude, a unificação e a transmutação completa. É o momento em que o chumbo se torna ouro, ou a alma atinge sua perfeição. É representada pela cor vermelha e pelo sol em sua plenitude. Espiritualmente, representa a união com o divino e a realização do propósito maior. Psicologicamente, é o estado de individuação, onde a psique alcança equilíbrio e integração total. Seu elemento: Fogo. É um dos elementos mais intensos, simbolizando paixão, transformação e poder criativo. Pode tanto iluminar e aquecer quanto consumir e destruir. Vamos explorar seus significados emocionais e alquímicos. O Fogo está ligado à energia, vontade e impulso vital.
Emocionalmente ele tem inúmeras representações em todas as culturas. Está associado a emoções intensas, como paixão, desejo, amor ardente, raiva e entusiasmo. Representa a iniciativa, a força de vontade e ação, coragem e determinação para alcançar objetivos. Assim como o fogo purifica e molda metais, também queima o velho para dar espaço ao novo, transformando e renovando. Está ligado ao brilho das ideias, à faísca da inovação e ao entusiasmo pela arte e expressão através da criatividade e inspiração. O fogo representa o carisma e a capacidade de guiar outros com energia e convicção. Quando em excesso, pode se manifestar como impulsividade, agressividade, arrogância e destruição. Quando em falta, pode gerar apatia, desmotivação e falta de propósito. Na Alquimia, o Fogo é o agente da transmutação, responsável pela queima das impurezas e pela ascensão espiritual. Representado por um triângulo apontando para cima (🔺), indicando a ascensão da matéria para o espírito. Sua associação planetária é com Marte (guerra, ação) e o Sol (força vital, iluminação). E sua associação com o corpo está relacionada ao metabolismo, digestão e energia vital.
O Fogo é o principal catalisador alquímico, representando a queima de impurezas e o renascimento (como a Fênix que renasce das cinzas). Simboliza o espírito divino dentro de nós, a chama interior que nos conecta ao propósito e à iluminação. Na prática alquímica, o Fogo representa tanto a destruição do que é impuro quanto a energia necessária para a ascensão espiritual e a criação de algo novo. O Fogo é poderoso e transformador. No nível emocional, ele rege paixão, ação e criatividade. Na Alquimia, é o elemento que purifica e eleva a consciência. Saber canalizá-lo é essencial para evitar a destruição e usar seu poder para evolução pessoal e espiritual. Os conceitos e etapas da Opus Magnun podem ser aplicados a qualquer proposta de vida, observe que no início, Nigredo, o que temos á a dissolução (ou análise) de substâncias. Após fases sequenciais de mais análises, e a separação do trigo do joio, se chega a uma nova síntese, o Rubedo. Um novo estágio de compreensão.
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O Colégio dos Magos e Sacerdotisas, a partir de março, iniciará novas turmas para os curso de “Magia: fundamentos e práticas”. O curso, com seis encontros de duas horas será on line e apresenta a seguinte ementa de suas atividades: Introdução e apresentação do curso, a importância cultural da magia e os símbolos mágicos; O triângulo: magia, religião e ciências; Fórmulas de Proteção e neutralizações com os quatro elementos; Magia, bruxaria e feitiçaria; Magia com a Água através dos banhos rituais; Magia com defumações seus preparos e usos; Magia com óleos suas preparações e seus usos; As Fórmulas faladas, as preces e os símbolos escritos. As matrículas estão abertas e os interessados podem entrar em contato direto com o Colégio dos Magos e Sacerdotisas através da Bio, Direct e o Whatsapp: 81 997302139.
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Marco Mammoli é Membro do conselho do Colégio dos Magos e Sacerdotisas