Hugo Mósca, favorito de Vargas, amante do futebol, e o que foi sem ser na gandaia
Publicado
emJosé Escarlate
Um amigo importante que fiz, na minha passagem pelo Correio Braziliense foi o Hugo Mósca, advogado, jornalista, escritor, professor universitário, e diretor-geral do Supremo Tribunal Federal, onde mandava. Alto, meio gordo, simpático e elétrico, Mósca falava depressa e, às vezes, embolava tudo.
Ele foi um dos fundadores da Academia Nacional de Direito do Trabalho, onde ocupava a cadeira n. 12 e dava aulas na Faculdade Integrada do Planalto, depois de aposentado. Foi pioneiro na instalação do Supremo em Brasília e era apaixonado por futebol. No Rio, foi um dos advogados do Fluminense e seu benemérito.
Em Brasília, presidiu a Comissão de Construção do Estádio Pelezão, fundador e primeiro presidente da Federação Metropolitana de Futebol.
Hugo Mósca começou como redator da Agência Nacional, nos idos da ditadura Vargas. Ele e Rivadávia de Souza eram os responsáveis pela cobertura oficial do Palácio do Catete. Mais especificamente, do presidente Getúlio Vargas. Mósca, trabalhava pela manhã e, Rivadávia, à tarde. Os dois tinham hábitos inteiramente diferentes. Um, era meio padre, enquanto que o outro, boêmio, da pá virada.
No seu livro “Astronauta de Pandorga”, Rivadávia revela que “Mósca era um imensurável cu-de-ferro. Seis horas da manhã já estava em pé, banho tomado, barba feita e vestido para sair. Dormia cedo, não bebia nem fumava, mas onde quer que Getúlio estivesse hospedado, em suas viagens, a primeira cara que ele encontrava ao levantar-se era a do seu repórter de estimação, Hugo Mósca”.
Rivadávia era o inverso. Ficava na retranca. Dormia e acordava tarde, bebia muito e frequentava os lupanares da vida, dia a dia. Não havia rivalidade entre eles, apenas Riva, gozador emérito, nos locais profanos onde se reunia com os amigos, sempre que as damas da noite indagavam seu nome, não vacilava: “Eu me chamo Hugo Mósca”.
No seu tempo de STF, ele me passou matérias importantes que, pela qualidade abriam a minha coluna diária, “Brasília-DF”. Foram “furos” que mereceram primeira página. Outras vezes entrava sempre apressado na redação para passar informações ao José Natal, editor de esportes, cuja mesa ficava ao lado da minha.
Mósca era cacique do futebol de Brasília, ele que fora advogado do Fluminense, no Rio, e seu benemérito. Seu papo era alegre e extrovertido, Mósca muitas vezes sentava-se à máquina e em poucos minutos produzia quatro a cinco notinhas exclusivas. A última informação que tive do Hugo Mósca foi de que ele estava doente, com Alzheimer. Viemos depois saber que o seu plano de saúde, a Cassi, havia negado autorização para a compra de remédios. O velho e saudoso amigo Hugo Mósca faleceu no dia 2 de janeiro de 2007, após longa agonia.