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“I want to go back to Bahia” e seus trios elétricos, ministro

Brasília 60 Anos - Catedral Militar Rainha da Paz

A estupidez é infinitamente mais fascinante do que a inteligência. A inteligência tem limites, a estupidez não. Partindo desta premissa, concluo que a estupidez de acreditar que podemos estar acima de tudo e de todos é das mais ridículas que conheço. Carioca de berço e brasiliense por adoção há 39 anos, sou daqueles que não cuspo no prato que como ou no que comi. Brasília me acolheu de braços abertos, assim como acolhe a cada governo, ou seja, de quatro em quatro anos, uma numerosa leva de aventureiros que, encerrada a aventura, acaba fincando raízes por aqui. Boa parte deles normalmente se mantém pendurada nas longas tranças da viúva, cujas tetas estão por um fio. O dia em que elas estiverem secas, certamente eles picam a mula.

São estes que, sem conhecimento algum da capital, avaliam a cidade como ilha da fantasia. Na verdade, são eles que fantasiam a ilha, pois quando aqui aportam a primeira coisa que devem dizer é a frase mágica do jogador de futebol entrevistado em pleno calor do jogo: “Vou si consagrar”. Dependendo do ponto de vista da consagração, alguns até chegam lá. Muitos são barrados na primeira tentativa de retorno ou encerram a carreira como investigados em maracutaias das mais cabeludas. Os gabinetes dos ministros do Supremo Tribunal estão abarrotados das coisinhas de Jesus. Sobra para estes uma outra expressão muito conhecida nos estádios de futebol: “Si lasquei”.

Queria usar outra palavra, mas a licença poética ainda não permite esse liberalismo no jornalismo. Portanto, que meu lasquei seja entendido como quiserem. É somente uma questão de semântica. Obviamente que a expressiva parcela dos quase 3 milhões de habitantes enxerga Brasília como uma possibilidade clara de realização de sonhos. Antes, porém, todos aprendemos lições inesquecíveis de vida, entre elas a do respeito à maioria que não dispõe do poder fantasioso, efêmero e, principalmente, doentio. Brasília hoje é uma metrópole, mas não foi sempre assim. Nos anos 60, 70 e parte dos anos 80, a capital tinha mais terra vermelha do que gente, já era majestosa, mas não passava de um sonho de Dom Bosco.

Por conta e risco do populismo exagerado de alguns políticos, a cidade e seu entorno cresceram além de seus limites, embora tenha atendido aos devaneios políticos de quem nem era daqui. Com o crescimento populacional, cresceram as mazelas, que são conhecidas apenas por quem vive na “Ilha da Fantasia”, apelido dado por um ministro que está aqui de passagem e certamente não conhece mais do que o caminho de seu gabinete até o aeroporto. Não sabe sequer que Brasília e o Distrito Federal são coisas distintas. Senhor ministro, se quer se aculturar em relação ao quadradinho passe algumas horas visitando as chamadas cidades satélites, nas quais as expectativas são sempre angustiantes e a realidade raramente corresponde à nossa fantasia.

Meu caro ministro de sei lá o que, graças a Luiz Inácio vossa insolvência apareceu para o Brasil. Até janeiro, mal e porcamente, seu cenário de homem público estava limitado à sagrada Bahia, terra de gente boa e ordeira, de ícones da MPB, de intérpretes e percussionistas renomados, mas também de loroteiros sem graça alguma. É neste último grupo que o incluo. Se o senhor acha que Brasília é uma ilha da fantasia, por que veio para cá? E por que continua por aqui? Aproveite que sua cabeça está à prêmio, peça para fazer xixi, atenda o apelo do cantor Paulo Diniz e “I want to go back to Bahia”. Os trios elétricos o esperam.

Pode ter certeza de que os brasilienses não sentirão sua falta. Aliás, poucos sabem quem é e o que produz um cidadão que se empanturra de acarajé apimentado e faz a caca logo na entrada. Meu caro Tattoo, o seu mundo é uma fantasia. É povoado basicamente por aqueles que não sabem o que dizem. De minha parte, sou grato a JK e prefiro viver na ilha da fantasia do que mergulhar no seu mar revolto e poluído pelo excesso de mentiras e de engodos. Diria mais: ao contrário do seu líder, o senhor não é bem-vindo à ilha da fantasia. Quem não sabe o que diz, melhor ficar calado.

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