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IA engole empregos e deixa povo nordestino com o pires na mão

O impacto da Inteligência Artificial no mercado de trabalho tem sido discutido sobre como essa tecnologia pode transformar diversos setores da economia e, consequentemente, ameaçar empregos em diversas áreas. A IA tem o potencial de automatizar uma ampla gama de tarefas, desde as mais repetitivas até as mais complexas, afetando principalmente funções que envolvem processos previsíveis e rotineiros. No entanto, ela também cria novas oportunidades e exige habilidades diferentes, promovendo a requalificação dos trabalhadores.

No Nordeste, entretanto, é visível que seu custo social é alto. A manufatura e a indústria são dois exemplos. A automação industrial já é uma realidade em muitas fábricas, com robôs atualizando tarefas manuais em linhas de produção. Com a IA, as máquinas podem realizar diagnósticos, prever falhas e tomar decisões em tempo real. Isso está reduzindo significativamente a necessidade de trabalhadores em funções de operação de máquinas e montagem.

Percorrendo as ruas da Região Metropolitana de Salvador, imaginei-me num futuro próximo e deparei-me, numa manhã ensolarada onde o clima parecia mais denso, com pessoas que cruzavam avenidas lotadas de veículos independentes, guiados por uma força invisível, eficiente e incansável: a tal da Inteligência Artificial em ação. Não era preciso prestar atenção aos semáforos; os próprios sistemas já calculavam a melhor rota para cada um, eliminando a possibilidade de erro humano. Uma revolução silenciosa havia acontecido, e poucos perceberam até que fosse tarde demais.

Olhando ao redor, não era difícil notar o impacto da automação. Antigas fábricas, antes lotadas de operários com macacões engraxados, agora brilhavam com robôs de alta precisão. O barulho frenético das máquinas de costura, das prensas de metal, dos rasgos e até mesmo das linhas de montagem foram substituídas pelo zumbido suave de motores elétricos, controlados por algoritmos que não paravam para almoçar.

Carlos, um trabalhador de 45 anos, passando ao meu lado lado por uma dessas fábricas a caminho de casa, mostrava-se desanimado. Há alguns anos, ele fazia parte do ciclo produtivo, ajustando peças e supervisionando o maquinário. Hoje, assiste ao avanço das máquinas com um misto de fascínio e frustração. “O progresso não pode ser parado”, dizia ele para si mesmo, tentando aceitar a mudança decisiva em sua vida.

Mas – sinto isso ao perambular em direção à capital – o impacto não se restringe às fábricas. Escritórios corporativos também foram redesenhados pela Inteligência Artificial. Análises financeiras, criação de campanhas de marketing, diagnósticos médicos — tudo isso, antes realizado por especialistas humanos, agora é feito com precisão por softwares que aprendem mais rápido do que qualquer pessoa jamais poderia. Luciana, uma publicitária que tinha paixão por criar estratégias inovadoras, agora passa seus dias ajustando algoritmos. O toque criativo, o “olho humano”, parece cada vez mais dispensável. A IA tornou-se não só uma ferramenta, mas uma ‘tomadora de empregos’.

Em todos os segmentos do setor produtivo, de serviços financeiros ao setor agrícola, uma nova realidade está se desenhando. Tratores inteligentes aram a terra com mais eficiência do que um humano poderia; algoritmos projetam colheitas com uma precisão que os agricultores nunca tinham visto. A promessa de uma produtividade maior, de lucros sem precedentes, seduzem as grandes corporações, enquanto os trabalhadores, desamparados, lutam para encontrar um lugar nesse novo ecossistema digital.

A questão é que o progresso tecnológico não é, por natureza, vilão. Ele alivia o ser humano de tarefas repetitivas e abre portas para novas possibilidades. No entanto, a falta de uma transição suave é o que atormenta a maioria. Enquanto as empresas cortam custos com a substituição de trabalhadores por IA, o impacto social é devastador. De um lado, há os executivos comemorando margens de lucro recordes; de outro, uma classe trabalhadora sem rumo, lutando para se reinventar.

Observa-se, a olhos vivos, que ninguém está contra o progresso. Mas como fica o preço desse progresso para uma sociedade mais desigual? E se pontuarmos que a cada posto de trabalho substituído, uma família se encontra mais perto da margem de vulnerabilidade? No fim do dia, a Inteligência Artificial, embora poderosa, não resolve um dilema essencialmente humano: o que faremos com as pessoas que ficaram deixadas para trás?

Acompanho, de longe, Carlos chegar em casa, onde seus filhos brincam no jardim. Ele olha para o futuro com incerteza, mas também com esperança. Talvez, em algum ponto, o ser humano aprenda a usar a tecnologia a seu favor, sem sacrificar os empregos e o bem-estar de tantos. Afinal – eu sinto isso no olhar dele -, a Inteligência Artificial pode ser brilhante, mas o calor humano, a criatividade e a resiliência são coisas que nem a máquina mais sofisticada consegue replicar. E nisso, Carlos encontra um fio de esperança.

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