O ministro Sergio Moro tem uma mosca na sua sopa. É o governador do Distrito Federal, autodeclarado arquimilionário Ibaneis Rocha, dono da aeronave modelo King Air que tirou do solo carioca Michel Temer, após a soltura do ex-presidente das dependências da Polícia Federal, por ordem monocrática do desembargador Antonio Ivan Athié, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2).
Ibaneis promove uma conveniente popularidade após anunciar sua candidatura à Presidência da República e tem sentado à cabeceira de todas as mesas possíveis, em encontros políticos e midiáticos, muitos financiados por ele mesmo.
O fotogênico Ibaneis, em campanha extemporânea para 2022, declarou que vai recorrer aos colegas da Justiça para impedir a permanência do traficante Marcola nas dependências do presídio federal de Brasília.
Na falta de pautas locais da sua gestão onde não há assuntos positivos para divulgar ou de alcance nacional, o advogado correntino colocou o ministro Sergio Moro na mira para criar um fato. Ainda que insosso, em troca da polêmica quer holofotes.
Ao expor sua contrariedade em hospedar Marcola em terras candangas, sem quaisquer fundamentos aceitáveis, uma vez que a jurisdição daquela unidade penal é federal, portanto quem manda ali é o implacável Moro.
Esqueceu Ibaneis que o Brasil inteiro, incluindo o seu amado Piauí, quer saber para onde então deveria ser enviado o líder do narcotráfico, segundo o califa governador.
São poucas as opções de presídios federais inaugurados a partir de 2006: Catanduvas, no Paraná; Campo Grande, Mato Grosso do Sul; Porto Velho, Rondônia; Mossoró, Rio Grande do Norte; Brasília, Distrito Federal e o inaugural Charqueadas, no Rio Grande do Sul.
Para quem deseja ser presidente do Brasil, Ibaneis cometeu clara discriminação com as populações daqueles estados e regiões. É uma estratégia no mínimo duvidosa.
Marcola foi preso por ser recorrente nos crimes que cometeu. Michel Temer também, independente da tipificação de seus delitos, em apuração.
Observadores afirmam que o movimento de Ibaneis é cem por cento para criar um factoide. Não teria justificativa alguma para insistir em um assunto insípido, fora da sua jurisdição. Não há registros de rebeliões, fugas ou entrada de celulares em presídios federais. O regime adotado nessas unidades também é diferenciado, quanto ao confinamento e à especialização das equipes carcerárias.
Somadas as diferenças de outros presídios (o Brasil tem cerca de 1 milhão de apenados), o de Brasília está na sede dos poderes da República, com grandes áreas de segurança nacional e monitoramento intensivo. Dessa forma, todos querem saber o que teme Ibaneis, que pretende trocar o King Air por um Boeing Max 8 no primeiro leilão que acontecer, só para emprestar aos amigos em troca do controle do MDB nacional. Mas isso parece ser intriga da oposição.
Outra tese, mais apropriada a uma análise, é que presídios são também empreendimentos. Não geram apenas almas penadas, mas emprego e renda, movimentam o setor hoteleiro e de alimentação e outras necessidades periféricas do lado de fora de seus muros.
A bolsa de apostas está alta. Quem cravar que Ibaneis quer mesmo é construir um presídio federal na sua querida Corrente, cidade piauiense de 25 mil habitantes onde nasceu a família dele, a 860km de Teresina, vai acertar na cabeça. Aí, tudo bem. Sergio Moro pode mandar o Marcola pra lá.