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Ibaneis evita os riscos da demora e tenta sarar as antigas feridas

Foto/Arquivo Notibras

Início de governo é sempre assim. O candidato fez campanha, se elegeu, montou equipe de transição que teve acesso a parte das informações, e desde 1º de janeiro, tem o comando do barco. Descobre alguns cadáveres escondidos nos armários, tem de lidar com assuntos que não o empolgam, é confrontado a situações inesperadas, e surgem obstáculos a planos e programas que ficavam tão brilhantes na mente e no papel, mas desbotam na chuva da realidade.

Ibaneis Rocha mostra ser um governador desde que eleito muito ativo. Visitou o então e o futuro presidente, convenceu ministros a virar secretários (alguns até conseguiram trazer sobras de orçamento de suas pastas), fez contatos com seus futuros colegas, viajou de metrô em São Paulo. Enfim, se preparou para o novo desafio.

Instalado no Buriti, Ibaneis já mostra serviço. Saúde, segurança, impostos, administrações regionais, transporte, as primeiras medidas apareceram. E o doutor tem tanta pressa que apela aos distritais para abrir a casa por um dia, colocando em curta discussão e ampla votação os projetos que precisam do aval do Legislativo.

A CLDF, por sinal, respeitou sua tradição de entrar em sintonia com o mandatário maior. Foi fácil: mal o candidato do MDB se elegeu presidente, e seu adversário recebeu convite para liderar o Governo na casa. A oposição ficou reduzidíssima. O que não quer dizer que Ibaneis poderá tratorar: a renovação trouxe ventos novos e jovens deputados que querem marcar posição. Não vão aderir à “velha política” de serem oposição por princípio, ou situação cabisbaixa. Devem querer discutir ponto por ponto, com votação a prever no estilo cravo e ferradura.

No setor da habitação, por enquanto, nenhum anúncio. No programa de governo registrado no TSE pelo candidato, o tema não mereceu grande destaque: uma página no meio das 68 outras.

O diagnóstico é de déficit habitacional entre 120 e 140 mil unidades, e a solução viria das construções já planejadas ou em curso dos novos bairros: Itapoã Park, Parque das Bênçãos (Recanto das Emas); Crichás (São Sebastião), QNR (Ceilândia), Quadras 100 (Samambaia), Centro Urbano (Recanto das Emas) e Nova Colina (Sobradinho). Desde o governo Agnelo, os programas de moradia seguem o mesmo modelo, o do Minha Casa Minha Vida, com padrões habitacionais diferenciados segundo as faixas de renda. E condições de financiamento de acordo com as possibilidades de cada uma dessas faixas.

Só que todos esses nascem com duas taras importantes: os espaços reservados para os serviços públicos são deixados para depois, e eles ocupam áreas fora de perímetros centrais. Sem escola, sem posto de saúde, sem transporte público, sem emprego disponível, se tornam bairros-dormitórios. E na contramão da crescente preocupação com o meio-ambiente e a mobilidade urbana. Para toda e qualquer coisa, seus moradores precisam de carro particular. Criticavam-se as políticas de assentamento de Joaquim Roriz. Elas mudaram; para pior, já que os beneficiários recebem, junto com as chaves dos apartamentos padronizados no estilo reduzido e colado um ao outro, o carnê de financiamento a perder de vista.

Enquanto os projetos estão em andamento, um outro desafio, muito mais importante, aguarda o governador Ibaneis: as invasões. Virou uma tradição após cada eleição: os três últimos meses do ano veem florescer piquetes de demarcação, folhas de madeirite, lonas e faixas amarelas-fluorescentes. Desta vez, embalados pelo anúncio da extinção da AGEFIS, os grileiros se sentem à vontade.

Focos de invasões, loteamentos e construções se espalham pelo DF todo dia. É só conversar com morador de qualquer cidade que ele vai indicar novos vizinhos que chegaram desde outubro passado. Alguns já estão na fase da alvenaria. E preparam o discurso da compra de “boa fé”. Na Ponte Alta, no Varjão, em Sobradinho, no Recanto das Emas, os administradores recém-nomeados já recebem denúncias diárias.

Os críticos da ação da AGEFIS no governo Rollemberg se diziam contrários à grilagem, mas consideravam que era “desumano” destruir uma casa já erguida. E questionavam por que o Poder Público não tinha impedido a construção. O momento é este, governador. Cada dia que passa é um dia perdido. Há periculum in mora. E, desta vez, sem nenhum fumus boni iuris para os invasores.

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