Velhas lembranças
Ibrahim teve quase tudo, menos vida de Mathuzalém
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emAo ler, aqui no Notibras, a excelente matéria do Mathuzalém Júnior sobre Vitoriosos no Poder, ele utilizou uma famosa frase dita todas as vezes possíveis e mais um punhado pelo saudoso Ibrahim Sued: “O cães ladram e a caravana passa”. Aliás, gostei tanto do que li, que fiz questão de telefonar pro Mathuzalém e parabenizá-lo por mais essa matéria, ao mesmo tempo em que lhe contei que conheci o Ibrahim nos meus tempos de funcionário do Banco do Brasil, lá no Rio de Janeiro. O Mathuzalém, curioso como ele só, foi logo me chantageando: “Dudu, ou conta ou, então, não tem mais café gourmet!” Tive que contar.
Aqueles que me conhecem sabem que eu trabalhei no Banco do Brasil durante 17 anos, sendo que tomei posse numa antiga agência chamada Figueiredo Magalhães, em Copacabana. Pois foi justamente nessa minha primeira lotação que passei a atender o Ibrahim Sued, que foi praticamente o inventor da antes badalada coluna social.
O cara era grandão, passadas largas, sorriso fácil. Os cabelos azulados, os olhos maiores que a própria face. Ele, como de costume, sempre ia ao banco após a agência estar fechada. Afinal, alguns clientes possuem certas regalias. E, muitas vezes, eu o recebia, pois, nesse tempo, era um dos últimos funcionários a ir embora.
De tanto atender o Ibrahim, acabou havendo uma intimidade pouco além da normalmente existente entre clientes que se dirigem a um banco e os funcionários. Tanto é que, não raro, ele me contava sobre algumas perspectivas da própria existência. De todas essas conversas, uma em especial me marcou.
– Dudu, a velhice é uma merda!
– Que isso! Você está muito bem!
– Que nada! Tá tudo caído por aqui!
Eu apenas o observava, talvez sorrindo, enquanto ele prosseguia.
– Dudu, você sabe que eu tenho muita grana, né?
– É, sei sim.
– Pois é, Dudu, se eu pudesse, trocaria toda essa grana pela sua juventude.
Pois é. Fosse hoje, e sendo possível, diria ao Ibrahim que, para onde quer que Alá o tenha levado, também lá dinheiro não compra tudo. E que nem todos nascemos Mathuzalém. Nem o neto.