Relaxar é preciso
Ida a urologista deve ser vista como visita ao Tororó
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emApesar de azul, novembro, mês usado para o chamamento da dedada no farinheiro dos machos alfa, beta e gama, tem deixado muitos desses sujeitos vermelhos. E a vermelhidão é variável. A maioria das vezes é de dor, mas, para alguns, há momentos inesquecíveis de prazer. Para tirar a dúvida, visitei o mesmo urologista em dez oportunidades diferentes. Em todas, experimentei a dedada. Por determinação superior, registrei em cartório o pedido que fiz, de viva voz, ao meu doutor preferido. Para que não restassem dúvidas disso ou daquilo, exigi que ele usasse todos os dedos das duas mãos. Não adiantou. Deliberadamente, mantive a dúvida.
Em vão, tentei lembrar qual dos dedos era o do prazer e qual era o da dor. Pelo sim, pelo não, já marquei outras dez consultas. Como o tal exame é feito por um cabra sozinho, não há por que temer o dedo todinho. O único conselho é a observação minuciosa sobre o manuseio do dedômetro. A atenção precisa ser redobrada, de modo a evitar dor e prazer maiores. Todo cuidado é pouco. O risco pode ser evitado com a rapidez do pensamento. A primeira coisa que observo é se as luvas do doutor foram realmente calçadas nos dedos com unha. O sem unha entra e não volta tão cedo. É a partir da dedada sem volta que a recepcionista e a enfermeira descobrem a verdadeira identidade do paciente.
Findo o atendimento a essa espécie de paciente, elas se entreolham, sorriem no canto da boca e passam a ter certeza de que o objetivo da consulta foi atingido. Além da cara de felicidade, o sujeito volta à recepção e marca dois novos exames em dias seguidos. O argumento é que tudo que é bom merece bis. Ao contrário desses tipos esquisitos, os machos alfas normalmente se colocam em frente ao urologista de arma em punho. Se antecipando ao susto do doutor, eles falam baixinho que o revólver é sua prova de masculinidade. Indagado sobre a tal prova, os camaradas, sempre de olhos fechados, pedem ao médico qualquer demonstração de alegria.
Alguns, depois de estancar várias ameaças de gritos, não se contêm e, despreocupados com a fila de espera, liberam a alma: Eita trem bão!
Brincadeiras à parte, saibam todos que mais vale uma dedada bem dada hoje do que sete palmos amanhã. Pior do que o exame é a fome. Então, relaxe e tome. Não tenha medo. O seu, o meu, o nosso problema é o que dizer para o especialista na primeira consulta. Dor lombar, desconforto no abdômen, pinto morto, espinhela caída, caneco furado ou pontadas no fim do espinhaço? Qualquer das alternativas, o médico manda tirar a roupa. Aí surge a principal preocupação. Qual a melhor posição? Mesmo sem conhecimento de causa, posso afirmar que, quanto mais relaxada, mais fácil é a introdução.
Já sem os panos, recomendo que tente viajar sem direção. Se possível vá até o Tororó para não ver ou sentir o toque no fiofó. Sugiro, no entanto, que, onde quer que esteja, se preocupe com o orifício de modo a evitar o vício. Mesmo nos machos alfas há sempre um medinho de que a dor vire amor. Quanto a posição, embora haja pouca diferença entre os posicionamentos urológico e ginecológico, recomendo o primeiro. O segundo causa muita emoção na saída incondicional do feijão. Sei que é outro patamar, mas é de bom alvitre não sair do consultório com a cara de quem ganhou na Mega Sena. Pelo sim, pelo não, seja homem e abra o caneco. Na dúvida, não se esqueçam nunca que urologista é o cara que olha seu órgão com desprezo, o pega com nojo, mas cobra como se tivesse tocado até a última nota um concerto em ré menor.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras