Decorar a casa é uma forma de projetar a experiência de vida de seus moradores. E isso fica ainda mais evidente quando se chega à terceira idade, momento em que o lar se converte, em geral, em refúgio de conforto e de lembranças. Para a designer de interiores Melina Mundim, que se especializou em projetos direcionados a essa faixa de clientes, o público veterano exige algumas diferenciações pontuais na hora de reformar e mobiliar. Sobretudo relacionadas ao uso das cores e das luzes na decoração.
“Conforme envelhecemos, nossa visão fica mais frágil, mais turva. É preciso espalhar pontos de cores pela casa, evitando superfícies muito brancas, além de caprichar na iluminação”, destaca. Para alguns, a paleta colorida ajuda a formar uma referência de espaço. Outros, no entanto, preferem uma gama de tonalidades mais neutra, como foi o caso deste projeto de Melina no bairro de Lourdes, em Belo Horizonte, onde tons mais sóbrios e a simplicidade característica de Minas Gerais deram o tom.
Um apartamento de 80 m² completamente mobiliado em três meses para receber um homem de 70 anos que viaja com frequência. Viúvo, ele decidiu deixar a antiga residência depois que o filho mais novo se casou. “Não foram feitos grandes investimentos, porque ele passa no máximo duas semanas por mês em casa”, detalha a designer. A ideia, portanto, foi montar um local de descanso e acolhedor, mas com espaço para receber os filhos e netos, que o vistam para almoços aos finais de semana.
Como principal trunfo, a decoradora investiu em revestimentos de madeira e em obras de arte espalhadas por todo o imóvel, além de livros e objetos decorativos. “Foi uma forma de quebrar a rigidez e deixar o local mais charmoso”, explica.
Apesar de sua idade, o perfil dinâmico do proprietário colaborou para o aspecto contemporâneo da decoração. “Geralmente tendemos a pensar que idosos preferem móveis mais clássicos ou sofisticados. Mas, na verdade, percebi que quase todos eles querem algo mais moderno”, acredita Melina. Para ela, agindo assim, essas pessoas procuram mostrar que sempre é possível se reinventar e renovar a casa se torna uma forma de alcançar esse espírito mais jovial. “Quando chegam aos 60, 70 anos, as pessoas ficam mais ‘desapegadas’. Nessa fase a decoração pode assinalar o começo de uma nova etapa da vida”, avalia a designer.
As lembranças de infância, entretanto, não deixaram de ser incorporadas ao projeto. Na sala de estar, um móvel com nichos traz a memória do pai do morador, que o construiu manualmente, e faz as vezes de mesa lateral. “Foi uma exigência do proprietário. Nós apenas escurecemos um pouco a madeira, que era clara, em uma cor mais ‘crua’”, ela afirma. O móvel ganhou a companhia de um abajur de cúpula arredondada e adereços decorativos da Hogar. Ainda no mesmo ambiente, uma antiga máquina de costura com gabinete, que era da mãe do proprietário, se tornou uma espécie de aparador equipado com gavetas.