O menino, sentado aos pés da avó, era inebriado pela empolgação da senhora: “Vai, Marinho! Chuta! Chuta!!!” O moleque sentia os trancos da avó, que chutava ao vento, como se quisesse acertar a bola, que corria presa aos pés do craque de longos cabelos loiros pela lateral esquerda do Maracanã. E, apesar dos outros jogadores em campo, o menino só tinha olhos para o jogador preferido da sua avó. Diante de tal paixão, não tinha como o garoto não virar Botafogo.
A avó gostava de falar sobre os grandes nomes do time da Estrela Solitária: Paraguaio, Patesko, Nilton Santos, Carvalho Leite, Heleno, Quarentinha, Didi e, também, um tal Garrincha. No entanto, o menino só queria saber do Marinho! Como jogava! Como driblava! Como chutava! Que gol mais lindo o Marinho fez! Queria porque queria ser igual ao camisa 6!
– Somente o Nilton Santos foi melhor que o Marinho.
– Vovó, ninguém é melhor que o Marinho!
Canhoto, o menino teve sua primeira decepção, pois queria ser destro como o Marinho. Começou a chutar somente com a direita nas peladas na rua. De tanto arriscar com a dita perna ruim, acabou por domesticá-la, talvez pouco melhor que o Gerson, que sempre dizia que só usava a perna direita pra subir no ônibus.
Maior tristeza, todavia, foi quando o Marinho foi jogar no Fluminense. Sentiu-se traído! Tanto é que pensou: “Ainda bem que sou canhoto!!!”