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Em tempos de internet

Idoso sobrevive com jornal feito à mão no interior de São Paulo

Publicado

Autor/Imagem:
Pedro Nascimento, Edição

“Original” é uma palavra que define bem o tabloide do seu Santino França, de 61 anos de idade. Mas, também poderíamos usar a palavra “ousado”, afinal, produzir um jornal feito à mão, em tempos de internet, é tarefa para as mentes mais ousadas.

O jornal mensal Itapercanjo – o nome é uma homenagem às cidades de Itapetininga e São Miguel Arcanjo, no interior paulista, onde Santino morou – está em sua 513ª edição. As informações são do G1.

Cada edição tem 30 páginas: preenchidas com notícias sobre o trânsito, política, histórias de personalidades, fofocas e desenhos para crianças. Conteúdo diversificado e para todos os públicos.

O que mais chama nossa atenção é que Santino estudou apenas até a quarta série. Ele saiu de casa na adolescência, trabalhou no circo e – bingo! – ganhou na loteria na década de 1980. A vida parecia melhorar, porém Santino gastou todo o dinheiro que ganhou com os “prazeres da vida”.

Para piorar a situação, em um curto espaço de tempo, ele pegou pneumonia e teve tuberculose, quase indo à morte.

Isso aconteceu entre 1999 e 2000, ano de fundação do Itapercanjo. Foi o jornal que, segundo Santino, salvou sua vida. “Sou grato a ele e nunca vou deixar de fazer”, afirma Santino, que tem a energia e os sonhos de um estudante de jornalismo recém-formado.

“Com a doença não conseguia arrumar emprego de jeito nenhum. Foi aí que tive a ideia de fazer o tabloide e, por sorte, todo mundo gostou.”

Santino, que já trabalhou como pedreiro e ajudante de serviços gerais, é leitor voraz: lê de tudo, da bíblia, passando por revistas, até gibis. A estética do jornal lembra os cordéis nordestinos, de onde Santino buscou inspiração para o tabloide.

Pai de dois filhos, que ele não vê há 30 anos – torcemos para que a repercussão de sua história promova esse reencontro! –, o idoso garante que o jornal não vai se curvar à internet.

“Eu coloquei o Itapercanjo na internet, mas ninguém quer ler pela internet. Não tem graça. Querem pegar na mão”, afirma.

O jornal é distribuído primeiro nas 30 lojas que o apoiam financeiramente, nas cidades de Itapetininga, Sorocaba, Pilar do Sul e São Miguel Arcanjo. Depois, o jornal feito à mão é disponibilizado para o público em geral. São distribuídas 3 mil cópias – 2 mil coloridas, pagas, e mil em preto e branco, gratuitas.

O projeto rende para Santino, em média, um salário mínimo – a única fonte de renda do idoso.

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