Mal do século
Ignorância é o bem maior de quem vive de induzir ao erro
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emA pouco menos de sete meses para a realização de uma das eleições mais polarizadas dos últimos tempos, a maioria dos brasileiros aptos a votar ainda não se descobriu como eleitor. De um lado, há um grupo ingenuamente crédulo nas falácias dos cleptomaníacos que, com as mãos direita e esquerda, lapidam o patrimônio público. De outro, estão os ainda mais ingênuos, pois, instrumentalizados e idiotizados pelos ideólogos de fundo de quintal, acabam involuntariamente cúmplices dessa crescente, insolúvel e cada vez mais cretina e lucrativa indústria do crime. Esse último clube, agremiação ou associação assustadoramente é formado por uma assembleia de ignorantes, cuja missão, também involuntária (ou não), é legitimar e blindar por meio do voto a comunidade dos espertinhos.
Desconhecimento, desinformação, inconsciência, candidez, pureza, incultura, temperança ou bisonhice. Não importa a paridade ou analogia com o conceito do substantivo feminino ignorância. Realmente importante é reconhecermos que a incivilidade, estupidez ou apedeutismo permanece na liderança das maiores enfermidades do ser humano, principalmente quando o tema é a política. Religião e futebol vêm na sequência. Epidemia silenciosa, normalmente adquirida e, às vezes, grosseira, a ignorância é um “bem” considerado pela maioria dos impulsivos como uma necessidade de mostrar superioridade. Para eles, tudo o que dizem, pensam ou escrevem é óbvio. Parecem ter vergonha do medo e da invisibilidade.
Definida por Rui Barbosa (o mais laureado polímata brasileiro) como mãe da servilidade e da miséria, a ignorância, conforme todos os sábios pesquisados, é a pior doença e a causa de todos os males da humanidade. Segundo o disse onário, em última análise, é a ausência total de conhecimento acerca dos acontecimentos contemporâneos. O problema é quando ela é alienista, ou seja, um estado de quem não está a par da existência ou ocorrência de algo. Não é bem uma moléstia, mas lembra um distúrbio mórbido e pode se materializa de várias formas. Pode ser educacional, cultural, musical, literária e até esquizofrênica.
O pior dos mundos da ignorância é quando alcançamos aqueles que, não sabendo utilizar suas capacidades racionais, engana-se quanto à qualidade de seus conhecimentos, tomando por verdade o que não passa de uma opinião falsa ou incerta. Transportando para os dias atuais, são as hediondas fake news, que expõem interlocutores desavisados à ilusão e ao erro. Conscientes de que se esconder para humilhar o outro é uma necessidade de quem adora se sentir superior, esses agentes fogem das regras legais e viram feras quando são obrigados a se subordinar. Prova disso é a recente reação de integrantes do governo ao bloqueio da plataforma Telegram. Querem liberdade para operar fora das quatro linhas.
Em ano eleitoral, os “doentes” optam pela invisibilidade como forma de evitar críticas e punições, incluindo o banimento. Alguns tentam buscar com os universitários explicações ou soluções para a controversa agrura. Com todo respeito aos nossos acadêmicos, eu sempre prefiro os sábios de ontem e de hoje, para os quais a inteligência é o melhor retorno à ignorância. Os eleitores conscientes devem se preparar para a disputa suja à Presidência da República. Eles serão o fiel da balança. Seguindo a máxima de Aristóteles, será deles a resposta sensata à afirmação do ignorante e à dúvida do douto sapiente. Como “juízes”, esses eleitores não terão vida fácil, principalmente porque, de acordo com outra tese do filósofo grego, convencer um ignorante é o mesmo que conversar com um cadáver.
Felizmente, as torcidas do Flamengo e do Corinthians sabem que faz algum tempo secou o mar de rosas perfumadas em que imaginávamos viver. Os lírios prometidos também não vingaram. Então, resta-nos escantear a emoção, sentimento que, via de regra, impede que sejamos nós mesmos. A partir daí, o melhor caminho até outubro, mês da eleição, é o silêncio, porque onde a ignorância grita melhor a inteligência não dar palpites. Definitivamente, os ignorantes e inescrupulosos não sabem conviver com pessoas melhores do que elas.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978