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Impeachment acirra clima e ganha tom de guerra civil espanhola da direção do PT

Ricardo Galhardo

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, recorreu a uma frase que remete à Guerra Civil espanhola (1936-1939) para se manifestar sobre a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de aceitar a abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. “Golpistas não passarão”, escreveu o petista em uma rede social com a marcação #NãoVaiTerGolpe.

Falcão anunciou nesta quarta-feira, 2, também pelo microblog Twitter, que apoiaria a continuidade do processo que pode levar à cassação de Cunha no Conselho de Ética da Câmara.

Antes mesmo de Cunha fazer o anúncio, a direção do PT já dava como certa a abertura do processo de impedimento. “Temos que encarar. Não podemos viver sob ameaça e chantagem”, disse Jorge Coelho, um dos vice-presidentes da legenda.

A certeza do PT vinha do fato de a bancada do partido na Câmara ter decidido, no início da tarde de ontem, fechar questão em favor da continuidade do processo contra Cunha, contrariando acordo feito entre o governo e o presidente da Câmara.

Segundo dirigentes do partido, tanto o posicionamento de Falcão como a decisão da bancada foram ações calculadas que já levavam em conta o cenário do processo de impedimento.

Lula – Antes de publicar a mensagem defendendo a continuidade do processo contra o presidente da Câmara, Falcão conversou por telefone com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo relatos de interlocutores do ex-presidente e do dirigente petista, que estava no interior do Acre na terça-feira à tarde, Lula disse que a direção da legenda tinha autonomia e discernimento para decidir sobre o assunto. Conforme integrantes da cúpula petista, “Rui não faria nada em discordância com Lula”.

Falcão sabia que a decisão de apoiar o procedimento contra Cunha seria o estopim do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, mas vinha sofrendo forte pressão da base partidária. De acordo com dirigentes do PT, desde o início da semana militantes de todo o País telefonavam para a sede do partido ou mandavam e-mails pedindo que a sigla se posicionasse frontalmente contra o peemedebista sob o risco de o partido perder de vez as condições de reabilitar a imagem combalida por intermináveis denúncias de corrupção.

Cobrança – O presidente do PT vinha se esquivando das cobranças para reunir a Executiva Nacional do partido e deliberar sobre a orientação que a direção daria aos três petistas que integram o Conselho de Ética. Na última reunião, no início de novembro, a Executiva havia determinado que a bancada do partido no colegiado votaria unida, seguindo ordem da direção.

A cúpula petista acreditava que não seria necessário se posicionar formalmente, o que poderia levar Cunha a deflagrar o processo de impeachment. Para vários dirigentes e parlamentares, o peemedebista “cairia sozinho” diante das fortes denúncias de corrupção reveladas pela Operação Lava Jato e da pressão da opinião pública.

O quadro mudou na terça-feira, quando ficou claro que os votos petistas seriam decisivos para determinar o destino de Cunha e a pressão sobre os três representantes do partido se tornou insuportável, ao ponto de um deles, Zé Geraldo (PT-PA) dizer que iria votar “não com uma faca, mas com uma metralhadora no pescoço”.

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