Além de um manancial de turismo, de novas oportunidades empresariais e de uma imensurável fonte de cultura, o Nordeste brasileiro faz tempo não é mais o patinho feio do Brasil. Hoje, sem a mesmice do Sul maravilha, é na região que o galo canta, o coelho guincha, o urubu crocita, o grilo grila, o pato grasna, a suçuarana ruge, o peru grugulha, a cigarra zune, a ovelha bali, a cobra sibila e, às vezes, fuma, enquanto o cisne tenta manter o canto até fevereiro chegar, quando os pássaros errantes dos tapetes verde e azul do Cerrado deverão anunciar sua morte. Seu nome é o xis da questão. Não revelo nem sob peia.
Melhor deixar no ar da Pajuçara, no luar da Ponta Verde, no orvalho dos Sete Coqueiros e no amanhecer da Jatiúca. O que posso dizer é que, em contagem regressiva para reassumir seu posto no baixo clero, ele perdeu para o gordinho mais amado de Brasília a briga pelas ricas emendas de comissão. Astuto como um gato e escorregadio como uma ratazana, deixará um legado de emendas secretas para chamar de seu. No meio da raia miúda e longe das asas da Panair do Brasil, tenho pesadelos só de imaginar ele desembarcando do buzão para participar galhardamente da folia carnavalesca do Rio de Janeiro. Pior será vê-lo chegando de jegue no carnaval da Bahia.
Sem confetes, serpentinas e sem liras, me dói a falta que nosso personagem oculto sentirá dos jatos da FAB. Craque em zerar contas públicas, um dia ele ainda escreverá que orçamento é uma coisa que se faz para saber como aplicar o dinheiro que já se gastou. Podemos criticá-lo dia, noite e de madrugada, mas é impossível não respeitá-lo pela facilidade como consegue transferir culpas para o eleitor, para o governo e para qualquer um que ele descubra como “inventor” da seriedade, da honradez e da honestidade.
Exemplar mais que perfeito daquela máxima de que os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes, nosso arremedo de marechal sem quepe é daqueles para quem tudo é relativo, inclusive o poder e a corrupção. O artista em questão nunca disse isso, mas seus gestos e suas ações deixam claro que, no inconsciente cada vez mais consciente, ele tem certeza da relação entre ambos. Com a picardia dos nobres e a destreza de um dos membros do bando de Lampião, o cabra vai de A a Z sem precisar dizer por quê.
Aliás, desde menino seu sonho era ser legislador como os políticos de hoje em dia. Mesmo no fundo da sala, passou do ponto e chegou a dar aulas de como agradar a Deus e ao Diabo na mesma cena. O país e o mundo não vão bem. Azar do país e do mundo. Ele e os seus estão ótimos. Melhores do que quando seu navio aportou no Cerrado do quadradinho chamado Brasília, a capital de todos, principalmente daquele proverbialmente treinado para chegar chegando, ou seja, para triunfar diante das nulidades que encontrasse.
Como integro a confraria dos justos (no meu caso, justas), é inegável não lhe estender o tapete vermelho da politicagem de lucros sem muito esforço. Nesse quesito, ele colocou o sarrafo em uma altura destinada somente aos mais espertos. Do tipo pecador que não foge do pecado, lubrificou a velha máquina de engolir milhões de reais por minuto. Se imaginou mais do que um imperador sem coroa. E não se enganou. O problema é que tudo que é bom um dia acaba. Está acabando. Depois de fevereiro, ninguém mais terá disposição de amolar seu machado. E daí? É claro que o poder é bom até debaixo d’água. Todavia, nada mais auspicioso do que desfrutar do sol de São Miguel dos Milagres para afiar o bico milagroso de tanto bicar nosso rico dinheirinho.