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Pai com documentos e filha, celular

Incêndio em apartamento mostra choque de gerações

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Autor/Imagem:
Carolina Paiva - Foto Acervo Pessoal

O fato aconteceu aqui em Brasília, mas, coisa desse mundinho virtual, a pauta me foi passada pela sucursal Nordeste de Notibras. O relato que subsidia esta crônica foi feito inicialmente por Eduardo Martínez, cronista número 1 do nosso portal. Não chego nem de perto nenhum Stephen King, mas o assunto é de provocar calafrios.  O Dudu, nosso eterno menino, viveu momentos de terror na madrugada deste domingo, 30. Terror literalmente infernal, pois tem a ver com um incêndio no apartamento abaixo do da filha dele, a Ninica, 0nde fora dormir Dudu.

Seria mais uma das noites de frio que temos vivido em Brasília, quando o silêncio habitual de um bloco residencial na Asa Norte foi rompido por gritos e sirenes. Um incêndio havia começado no primeiro andar, espalhando-se rapidamente e forçando os moradores a uma fuga desesperada. Entre eles, estavam Dudu, já beirando a casa dos 60, e sua filha, com seus vinte e poucos.

Quando o alarme de incêndio soou, Eduardo Martínez, sono profundo do tipo girafa (conforme ele mesmo definiu) foi acordado por batidas insistentes na porta. Era um dos vizinhos, alertando para o perigo do fogo que se alastrava. Nosso cronista, com sua experiência e sensatez acumuladas ao longo dos anos, instintivamente correu para pegar seus documentos. Ele sabia que aqueles papéis representavam sua vida: certidões, escrituras, passaportes. Eram provas tangíveis de sua existência e de sua história. Ao mesmo tempo, Ninica, apegada à tecnologia e às redes sociais, agarrou seu celular. Para ela, aquele pequeno dispositivo continha não apenas sua vida digital, mas também lembranças e conexões insubstituíveis.

Na correria para deixar o prédio, os dois, já no corredor, mostraram-se surpresos com as escolhas um do outro. O pai, sem entender como algo tão efêmero quanto um celular poderia ser prioritário em uma emergência, questionou a filha. Ninica, por outro lado, olhou para os documentos nas mãos de seu pai e se perguntou por que ele escolhera algo tão antiquado.

Enquanto viam, da calçada, o trabalho dos bombeiros, cercados por vizinhos igualmente atônitos, Dudu e a filha começaram a refletir sobre suas ações. O cronista percebeu que, embora seus documentos fossem importantes, a capacidade de comunicação e o acesso às informações proporcionados pelo celular da filha poderiam ser cruciais em uma situação de emergência. Ninica, por sua vez, reconheceu o valor dos documentos, que representavam segurança e estabilidade em tempos de incerteza.

O incêndio foi controlado, e felizmente, ninguém ficou gravemente ferido. De volta ao apartamento, ainda com cheiro de fumaça no ar, pai e filha sentaram-se para conversar. Pela primeira vez em muito tempo, ambos estavam dispostos a ouvir e entender o ponto de vista do outro.

Aquele incidente trouxe à tona a essência do choque de gerações. Mostrou que, apesar das diferenças, havia um ponto de convergência: o desejo de preservar o que consideravam essencial. Dudu e Ninica aprenderam que o verdadeiro valor não estava apenas nos documentos ou no celular, mas na compreensão e respeito mútuo. Essa experiência, tenho certeza, os aproximou ainda mais, podendo valorizar mais as perspectivas um do outro.

Com o cheiro ainda forte deixado pelo incêndio, Eduardo foi para a casa da mãe dele, também na Asa Norte, levando a filha Ninica a tiracolo. ‘As coisas acontecem numa velocidade impressionante’, relatou-me a Sucursal Nordeste. Decidi por um texto diferente para transmitir a informação do incêndio. E encerro após uma breve meditação: há momentos em que a sabedoria do passado e a inovação do presente devem caminhar sempre juntas.

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