Um policial bateu na porta de Alyce Macken de manhã cedo, disse-lhe que tinha 15 minutos para sair antes que o fogo destruísse sua casa. Esta é uma das muitas histórias devastadoras dos incêndios na Califórnia, que já deixaram oito mortos.
Cerca de 12.000 bombeiros lutavam nesta segunda-feira (30) contra as chamas de 17 grandes incêndios que avançam sem controle – alimentados pela seca -, transformando em cinzas uma área de 800 km2.
O mais forte deles, o Carr, matou seis pessoas, entre elas uma idosa de 70 anos, Melody Bledsoe, e seus dois bisnetos, de quatro e cinco anos, identificados como Emily Roberts e James Roberts, chamado de Júnior.
“Falei com Júnior por telefone até que ele morreu”, contou o marido de Melody à CNN, lembrando que suas últimas palavras foram: “venham, tirem-me daqui, o fogo está entrando pela porta dos fundos, venha vovô”.
Os três disseram que o amavam antes de Bledsoe garantir ao menino que estava a caminho. A ajuda não chegou a tempo de salvá-los. O incêndio matou ainda dois bombeiros e deixou sete pessoas desaparecidas.
O Carr, controlado em apenas 20%, arrasou 400 km2 e destruiu quase mil estruturas, 723 delas residenciais. Entre estas está a casa de Macken, na cidade de Redding, uma das mais castigadas pelas chamas. “Às seis em ponto da manhã, alguém bateu na porta e o delegado nos disse que tínhamos 15 minutos para sair. Saímos em dez. Estava tremendo”, contou à AFP esta aposentada, falando em um centro comercial vizinho, onde se reuniu com outros vizinhos, e de onde viu sua casa sucumbir ao fogo.
“Foi quase como um tornado de fogo, que chegou por cima da colina e varreu nossa casa, varreu a casa do nosso vizinho”, relatou.
“Muito mais otimistas” – As autoridades já evacuaram cerca de 38.000 moradores no condado de Shasta, ao qual pertence Redding. “Morei nesta comunidade toda a minha vida e nunca antes havia visto um incêndio que provocasse tanta destruição”, admitiu o supervisor deste condado, Leonard Moty.
Uma neblina espessa de fumaça que cobria uma grande área do norte da Califórnia provocava problemas respiratórios e limitava a visibilidade.
As autoridades disseram se sentir “muito mais otimistas”, disse Bret Gouvea, comandante da agência de combate a incêndios da Califórnia, CalFire. “Estamos ganhando terreno, já não estamos na defensiva”.
No entanto, as condições nesta segunda-feira são perfeitas para alimentar as chamas: muito calor, cerca de 38 graus, e pouco vento e umidade.
Segundo o Escritório de Serviços de Emergência do Governador da Califórnia (Cal OES), 12.000 bombeiros procedentes de locais tão distantes como Flórida e Nova Jersey foram deslocados por todo o estado.
Brown declarou estado de emergência nos condados de Shasta, Lake, Napa e Mendocino, este último com um incêndio que devastou 85 km2 e avançava com velocidade. O presidente Donald Trump colocou à disposição ajuda federal às zonas afetadas.
Mais de 40 pessoas morreram no ano passado na temporada de incêndios mais letal da Califórnia.
Três bombeiros mortos – O bombeiro Brian Hughes morreu neste domingo e se tornou o segundo a morrer no combate ao incêndio Ferguson, ativo perto do Parque Nacional de Yosemite.
Hughes foi surpreendido pela queda de uma árvore quando combatia as chamas, reportou o Serviço de Parques Nacionais de Sequoia e Kings Canyon. “Choramos sua perda”, escreveram no Twitter.
Ferguson arrasou até agora uma área de 229 km2 e está controlado em 30%. Obrigou o fechamento parcial do parque Yosemite, uma grande atração turística da Califórnia. Outros dois bombeiros morreram no fim da semana passada combatendo Carr.
O corpo de uma pessoa que ignorou as ordens de evacuação deste incêndio foi encontrado no domingo em sua residência carbonizada, informou o xerife de Shasta, Tom Bosenko, que indicou que outras sete pessoas estão desaparecidas.
Uma evacuada advertiu que uma píton albina de 4,2 metros que estava em sua loja também estava perdida. As autoridades em Redding não só combatem as chamas, mas também estão atentos a possíveis saques de lares evacuados. Duas pessoas já foram detidas.