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Caçador de dinossauros

Indiana Jones viveu na pele de uma pessoa real

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Edição de Bartô Granja, com reportagem da BBC News

A descoberta de um ninho repleto de ovos de dinossauros em 1923, na Mongólia, forneceu a primeira evidência de que as criaturas pré-históricas botavam ovos, em vez de dar à luz seus filhotes. Roy Chapman Andrews, o explorador americano responsável pela descoberta, se tornou uma lenda — e muitos o consideram até hoje a inspiração para o personagem Indiana Jones.

No programa de rádio Witness, da BBC, a jornalista Claire Bowes conversou com a neta de Andrews, Sara Appelbee, e com a autora Ann Bausum, que escreveu um livro sobre as expedições do explorador.

Roy Chapman Andrews começou a carreira como faxineiro do Museu de História Natural de Nova York. Formou-se na faculdade Beloit, em sua cidade natal — Beloit, no Estado de Wisconsin — em 1906.

Suas habilidades como naturalista se desenvolveram ainda na infância, que ele passou em meio a florestas, campos e cursos d’água. Adolescente, praticava taxidermia como hobby — e foi com o dinheiro dessa atividade que pagou parte dos estudos na faculdade.

O sonho de trabalhar no Museu de História Natural o levou a se mudar para Nova York. Sem nenhuma posição compatível com sua formação, no entanto, ele aceitou o trabalho na área de limpeza. Tornou-se também assistente do departamento de taxidermia e, com o tempo, foi galgando posições até, quase 30 anos depois, tornar-se diretor do museu.

O reconhecimento se deu após muito estudo e uma série de expedições arqueológicas (e aventuras) bem-sucedidas, em meio a uma época marcada por grandes explorações.

“(No início do século 20) havia pessoas viajando para o oeste americano em busca de dinossauros, havia a exploração aérea que (Charles) Lindbergh e outros estavam fazendo. A exploração polar. Realmente foi uma época de ouro”, contextualiza Bausum, autora do livro Dragon Bones and Dinosaur Eggs: A Photobiography of Explorer Roy Chapman Andrews (“Ossos de dragão e ovos de dinossauro: uma fotobiografia do explorador Roy Chapman Andrews”, em tradução livre).

“E o Santo Graal que as pessoas estavam procurando era o elo perdido da civilização que conectava os homens modernos com seus ancestrais humanos”, acrescenta.

Em 1922, Andrews decidiu partir então em busca desse elo perdido, que sustentaria a Teoria da Evolução de Darwin, em uma expedição pelo Deserto de Gobi, na Mongólia.

“Foi um empreendimento gigantesco. A única maneira de chegar lá era de navio. Não havia fabricação de automóveis na Ásia naquela época, então ele teve essa ideia ousada, que as pessoas também acharam muito louca… de embarcar automóveis com ele da América para a Ásia, dirigir até o deserto e usar (os automóveis) para se deslocar mais rapidamente pela vasta região.”

“E ele iria em abril e ficaria até setembro. Então teria que levar literalmente milhares de galões de gasolina, sem mencionar todos os suprimentos de comida de que ia precisar”, acrescenta Bausum.

E foi assim que Andrews liderou uma equipe de expedição — formada por especialistas em zoologia, paleontologia, geografia e geologia — até o deserto da Mongólia.

Embora não tenham encontrado sinal do elo perdido, eles começaram a descobrir fósseis de dinossauros — chamados pela população local de “ossos de dragão”.

“Andrews logo aprendeu que a maneira mais rápida de chegar aos campos de fósseis era perguntar aos moradores onde poderiam encontrar ossos de dragão. Porque essa era a explicação que a população local havia encontrado para aqueles restos fósseis incríveis de criaturas que pareciam mais míticas do que reais.”

Os ossos não só eram enormes, como não lembrava nada que os moradores conheciam. “Se assemelhavam a um osso do braço ou da perna, mas era maior do que uma pessoa”, explica Bausum.

Em 1923, Andrews e sua equipe voltaram ao Deserto de Gobi para outra expedição. Foi quando se depararam pela primeira vez com os fósseis de ovos de dinossauro.

“A verdadeira emoção veio no segundo dia, quando George Olsen disse ter certeza que havia encontrado fósseis de ovos (de dinossauros). Nós tiramos muito sarro dele. Mas, mesmo assim, ficamos curiosos o suficiente para ir com ele até o local após o almoço. E nossa indiferença de repente evaporou. Não havia dúvida que realmente se tratava de ovos”, contou Andrews, anos depois, no livro Under a Lucky Star.

“Muito provavelmente estes foram os primeiros ovos de dinossauro vistos pelos olhos do homem moderno”, completou.

Os ovos, de formato oval e alongado, estavam dispostos em uma espécie de ninho, como o dos pássaros modernos — e alguns estavam expostos, possivelmente em decorrência de tempestades de vento. “Estavam literalmente lá, à vista, apenas aguardando para serem descobertos”, diz Bausum. “E quando eles começaram a encontrar fósseis de ossos de dinossauros na mesma área, as evidências se mostraram bastante convincentes.”

A descoberta, que ajudou a confirmar como os dinossauros se reproduziam, foi notícia no mundo inteiro. Em 1° de novembro de 1923, o correspondente do jornal britânico London Times no Extremo Oriente anunciava:

“Há cerca de dez milhões de anos, a fera conhecida como dinossauro estava botando ovos na Mongólia. Eu vi uma dúzia de ovos em estado fossilizado, manuseei, pesei e medi os ovos. (…) Um deles está quebrado no meio, e olhando para essa fenda, você vê claramente o esqueleto branco, puro do embrião de um dinossauro.”

Além de inúmeras descobertas de fósseis — alguns chegaram inclusive a ser batizados em homenagem a ele, como o Andrewsarchus mongoliensis, um mamífero primitivo —, Andrews acumula uma série de aventuras no currículo.

Bausum explica que, embora não haja confirmação oficial que ele tenha sido inspiração para o personagem Indiana Jones, ambos arriscaram a vida pelo trabalho.

“Há uma citação maravilhosa dele: ‘Nos primeiros 15 anos de trabalho de campo, posso me lembrar de dez vezes em que realmente escapei por pouco da morte’. E ele faz uma longa lista, incluindo quase ser devorado por uma píton, se afogar, cair de penhascos e assim por diante.”

Sara Appelbee se lembra do avô contando como, na época das expedições ao Deserto de Gobi, ele fez amizade com o então príncipe da Mongólia, descendente de Genghis Khan.

“Ele era a pessoa que controlava a província onde eles estavam explorando. E entrou no acampamento a cavalo com cerca de 50 soldados. Foi bem impressionante. Todos estavam armados. Roy, é claro, foi ver o que estava acontecendo… e ele sabia que aquele era um momento que poderia terminar bem ou mal.” O explorador não só passou no teste, como se tornou amigo do jovem príncipe.

Mas nem tudo terminava de forma amistosa no deserto. Em várias ocasiões, Andrews teve que defender sua equipe de bandidos. “Outro artefato que tenho dele é uma pistola com três marcas de combate contra um ataque de bandidos. Eles chegaram ao campo disparando contra eles, e ele os enfrentou com a pistola”, conta Appelbee.

Qualquer semelhança com Indiana Jones pode não ser mera coincidência. “Tem uma foto em particular que ele está de cinturão, chapéu, bota, com as mãos no quadril e os pés afastados. Eu pensei… até que está parecido com Indiana Jones”, brinca a neta.

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