A indicação de Sandro Avelar para a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal passou por três cenários diferentes: velhas alcovas, fidelidade aos mestres, e guerra pela disputa do Palácio do Buriti em 2026. Como se trata de decisão política, as peças do tabuleiro de xadrez foram movimentadas rapidamente, como se os oponentes disputassem uma partida contra o relógio.
Derrubada a torre, o primeiro lance foi de Salomé – esta, por dever de justiça, ficará com nome fictício. Ela avançou seus peões contra o bispo Cappelli (supostamente evangélico, posto que os católicos não podem ter filhos, nem casos extraconjugais) e avisou: não quero no cargo quem já dividiu meu travesseiro.
Este lance aconteceu enquanto Lula, dono do trono, visitava terra arrasada em São Paulo, no momento em que seu próprio castelo era incendiado em Brasília. A dama Janja foi acionada e Flávio Dino, galopando rápido como aqueles velhos cavalos árabes pertencentes aos romanos, mandou que o bispo, então mero centurião, colocasse ordem na casa.
A cena dois é mais longa. Veio logo após apagado o incêndio. Quem seria forte como concreto para substituir a torre derrubada? Surgiram três nomes. O de Sandro, destacou-se para ser emplacado. Afinal, o delegado da Polícia Federal tem características que, imaginam seus aliados, deveriam ser enfatizadas: é fiel e polivalente.
Lembrou-se, a propósito – dentro da cena dois -, que o (ainda apenas) indicado, já ocupou a mesma cadeira; é aliado da ala emedebista pró-Bolsonaro e nunca deixa os amigos de lado. Esses, por sua vez, também não o abandonam. Tanto que, após o golpe que tirou Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, Michel Temer, atendendo a pedido de Tadeu Filippelli, fez de Sandro Avelar o policial de ligação entre o Brasil e a União Europeia, com o delegado passando a ocupar um gabinete na embaixada brasileira em Londres. Vencido o prazo – nunca superior a três anos – voltou para Brasília, sendo nomeado por Jair Bolsonaro como o número dois da Polícia Federal. Sandro lá ficou, até a volta de Lula, quando passou a fazer o papel itinerante de fantasma de corredor.
Terceira e última cena: em meio à guerra fraticida para saber quem ficará com a cadeira de Cappelli a partir do próximo dia 1º, o PDT decidiu que, rompida a velha aliança PT-MDB, chegara a vez de o brizolismo ocupar o Palácio do Buriti. Para tanto, porém, precisaria de um nome dentro do governo, com força suficiente para garantir urnas cheias em 2026.
Nessa hora – aliás, já horas avançadas da terça-feira da semana passada -, Carlos Lupi, presidente da legenda e ministro da Previdência Social, confiou uma nova missão à sua correligionária, senadora Leila Barros, derrotada na disputa pelo Buriti em 2022: levar o nome do peão ao centurião. Finda a conversa, à revelia do cavaleiro Dino, concluiu-se que a novela chegara ao final.
Foram, portanto, três cenários. Há, porém, quem garanta que possa ser escrito um capítulo diferente, com outros protagonistas. O PT raiz, embora governo federal, não manda no Buriti, é verdade. E não engole o MDB brasiliense desde o golpe de 2016. E para a legenda, abrir caminho para Leila ganhar voto com a mesma facilidade com que sacava em uma quadra de vôlei, seria como cavar o próprio túmulo.
Sandro Avelar será confirmado no cargo? A ficha dele é longa, principalmente quando se trata de fidelidade. Mas tem cabo na linha prometendo curto-circuito que dará dores de cabeça pelos próximos quatro anos.