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Inelegibilidade e cólica só acabam quando terminam

O homem mudar as leis antes de mudar a natureza humana. é uma exceção que lendas, duendes e mitos imaginam ser regra. Pelo menos é o que seres inventados por uma minoria acham. Tanto que o povo saído das fábulas continua achando que, no Brasil do faz de conta, mudar a Constituição, as leis e decisões de ministros de cortes superiores é mais fácil do que alterar o regimento interno de condomínios, clubes recreativos e casas de facilidade. Quem pensa assim não está de todo errado. Todavia, é recomendável a qualquer cidadão, mesmo sendo ele ex-presidente da República, atentar para o detalhe de que julgamentos nas cortes mais altas do Poder Judiciário merecem muito mais respeito do que os convescotes condominiais e clubísticos e não podem ser comparados às reuniões noturnas em redutos nada familiares.

Dia desses, em uma daquelas entrevistas para gatos pingados que não tiram a bandeira das costas e a peixeira da cinta, Jair Bolsonaro jurou de pés juntos que desde já é candidato à Presidência em 2026. Afirmou ainda que vai para a disputa pelo Partido das Lágrimas, também conhecido por PL ou a sigla 22. Amnésia ou lapso de memória são comuns às pessoas que não se permitem declarações que não sejam fantasiosas, recheadas de arrogância e melodramaticamente mentirosas. É o caso do ex-presidente, cujo futuro mais próximo, se tudo der certo, está marcado para começar somente no alvorecer de 2030.

Ele deve ter esquecido, mas até lá não há hipótese de reversão de sua inelegibilidade por abuso político e uso indevido dos meios de comunicação para disseminação de mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro. Obviamente que seus bajuladores de plantão jamais lhe dirão que a opção da direita, principalmente da extrema-direita, para brigar com Luiz Inácio por mais um mandato mudou de nome, endereço e CPF. Embora tenham certeza de que o jogo está jogado, eles tentarão até o fim viabilizar uma anistia para o líder.

Resumindo a ladainha, apesar do pensamento contrário da tropa de choque que não consegue esquecer as vantagens obtidas no governo do mito, o Tribunal Superior Eleitoral não modificará seu entendimento. Ministros e servidores da corte há muito estão prontos para registrar a candidatura presidencial do governador paulista Tarcísio de Freitas. Sob protestos de alguns e aplausos de muitos, a expectativa é de que Bolsonaro cumpra o que prometeu durante a entrevista à rádio Auriverde Brasil. No ar, o ex-presidente assegurou que “jogará a toalha” caso continue a vigorar sua inelegibilidade. Apenas para ilustrar, as lojas Riachuelo e Havan estão com toalhas de banho em promoção. Portanto, a hora é essa.

Falando sério, viver no mundo da lua às vezes nos faz fugir da realidade cruel. São pequenos e curtos momentos de doces ilusões. São os períodos da vida que incomodam pessoas normais, destiladores de ódio, veneradores de mitos, além dos próprios mitos. Há dias em que estamos no auge e há outros em que chegamos ao breu. Piores são aqueles dias em que as cólicas viram sinônimo de vazio, de dores e de esquecimento. Perturbadores, esses dias só acabam quando terminam e podem significar presságios do início de um fim que começou a se desenhar no primeiro dia 2023 e se consolidou uma semana depois. Presidente do PL, Valdemar Costa Neto sabe que, assim como dois e dois são quatro, reverter a inelegibilidade é mais do que improvável. É impossível.

Com os pés no chão, ele flerta com Tarcísio de Freitas e, no portão e às escondidas, namora o deputado Eduardo Bolsonaro, ambos supostos candidatos da direitona à sucessão de Luiz Inácio. O perrengue de Valdemar será convencer Lula a se recolher e abrir caminho para a volta do clã à ribalta. E o que dizer dos eleitores? Quem vai convencê-los de que Lula é pior presidente do que foi Jair Bolsonaro? Mesmo longe dessa contenda, hoje eu digo que, somando, diminuindo, multiplicando e tirando a raiz quadrada de um e de outro, o melhor é que permaneçam no mundo da lua. Se possível, saiam de lá somente em 2030, quando provavelmente a direita atingirá nas eleições gerais o mesmo patamar alcançado no pleito municipal. Até lá, não mexam com quem está moribundo, mas não morto.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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