'Pularização'
Inércia de Lula 3 lembra cobra que não come sapo por não rastejar
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Fevereiro acaba amanhã, março começa depois de amanhã e daqui a pouco é 2026. Nada contra 2025. Apenas para ilustrar que até agora o governo federal não conseguiu aprovar o Orçamento de 2025. É como o salário de cada mês. Qualquer menino do Maternal I sabe que é impossível para um ser humano normal andar, correr, comer, beber e se divertir sem dinheiro. É o que está ocorrendo com o Lula 3. Para qualquer leigo no jogo político, governo algum do mundo resiste às tentações políticas se não houver recursos para agradar às bocas sedentas e ferozes do Congresso Nacional.
Mais do que a pindaíba, não aprovar o Orçamento do exercício é a prova cabal de que falta sintonia entre Executivo e Legislativo. Sobram o ódio das viúvas de Jair Bolsonaro, abundam os conchavos para a liberação das emendas parlamentares, principalmente as PIX, mas faltam pessoas do tipo águias e capacitadas para negociar com os abutres famintos escondidos na Câmara e no Senado Federal. Nenhum brasileiro deseja que Luiz Inácio faça como Donald Trump que beijou os pés sujos de Elon Musk. No entanto, sem a necessidade de se rastejar, já passou da hora de estender muito mais do que o cofre público para as excelências que topam tudo por dinheiro.
Lula da Silva ou quem de direito precisa ter a coragem de dizer aos congressistas da maracutaia que não pode haver mudança política em uma sociedade quando a voz da necessidade é silenciada pelo dinheiro. Não há hipótese de crescimento econômico e social enquanto o futuro da nação estiver comprometido com os familiares dos parlamentares e não com os interesses do povo. Sei que parte do negativismo em relação ao governo Lula é uma questão de irresponsabilidade daqueles que assumem compromissos morais com os eleitores, mas respondem com ações tão imorais como suas vozes.
Todavia, também sei que há ocasiões em que a vocação política tem de falar mais alto. Sabemos todos que Luiz Inácio é vocacionado. Então, que ele se encoraje, recorra ao clamor do povo e faça as mudanças necessárias para a recuperação econômica do país e de sua imagem como governante. Antes de tudo, que ele saiba que para mudar é preciso ter a capacidade de não ter medo de mudar. Os verdadeiros patriotas esperam que ele também diga aos políticos que o povo não precisa mais se fantasiar no Carnaval, pois faz tempo que a cara já é de palhaço.
O Brasil e a maioria dos brasileiros torcem para que a fritura constrangedora, seguida de demissão da ministra Nísia Trindade da pasta da Saúde não tenha sido em vão. Conforme a argumentação de bastidor, Nísia foi defenestrada porque não conseguiu dar visibilidade ao ministério, tampouco contrapor os avanços de sua pasta às políticas de saúde do governo anterior. Menino dos olhos de boa parte do PT, Alexandre Padilha foi escolhido para protagonizar e reacender os holofotes do Ministério da Saúde. Embora político de carteirinha, a meu ver Padilha não terá vida fácil, principalmente porque ele mesmo tem conhecimento de que apagado é o Lula 3.
Esperar que dias melhores caiam do céu é o mesmo que fincar estaca em um pote de manteiga. Qualquer menino faz. O fato é que a roda da política está girando sem rumo. O resultado da inércia pode ser devastador. Basta acompanhar o sofrimento do eleitor para perceber que hoje o Brasil é muito mais da pularização do que da polarização. Em outras palavras, assim como nas casas de meninas de vida fácil, o povo pula de galho em galho e adere a quem lhe oferece mais. O cenário é péssimo para quem ainda tem valores políticos, mas definitivo para confirmar o velho ditado de que cobra que não anda não engole sapo.
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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
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