A voz do outro lado da linha é serena e não parece ser da mesma pessoa que abre seu romance de estreia, assumidamente autobiográfico, dizendo que de sua infância não guarda nenhuma lembrança feliz e que, embora tenha experimentado um ou outro sentimento de alegria, “o sofrimento é simplesmente totalitário: ele faz com que tudo que não se enquadra em seu sistema desapareça”.
A partir daí, o escritor Édouard Louis, um dos novos – e mais badalados – nomes da literatura francesa, leva o leitor para dentro da sua casa miserável, para o centro da vila operária falida no norte da França onde, até perto dos 15 anos, suportou as piores violências e humilhações.
Hoje, aos 25, não muito tempo depois de descobrir que ele poderia reinventar sua vida, Édouard fala sobre seu livro O Fim de Eddy, lançado agora no País pelo selo Tusquets, da Planeta, traduzido para 20 idiomas e com mais de 300 mil exemplares vendidos só em seu país.
É a história de um garoto que nasceu gay numa sociedade tradicionalmente machista, alcoólatra e homofóbica; que esperava, num corredor escondido da escola, a surra que levava, invariavelmente, todos os dias, de dois alunos. Do menino que pagou pelo desgosto que causou à família e que tentou a todo custo ser Eddy – e falhou. É, sobretudo, a história de uma criança desamparada.