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Inferno não comporta homens honestos de discursos vazios

A mão divina pode até tardar, mas não falha. Bastaram três anos e alguns dias para que o feitiço do retrocesso brasileiro, raivosamente lançado contra os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff, se voltasse contra o feiticeiro. Como se todos fosse perfeitos. Razão maior do antipetismo, o temor de boa parte da população no período que antecedeu as chegadas de Michel Temer e Jair Bolsonaro ao poder era com a chamada venezuelização do país. Ainda não ficou claro se o medo real era do empobrecimento geral ou da esquerdização mais radical. No primeiro caso, ocorreu exatamente o contrário, pois foi a época em que as camadas mais pobres mais comeram carne e frango. Com algum sacrifício, conseguiam ir ao cinema, teatro e viajar de avião, incluindo alguns rasantes à Disneywolrd.

E não sou quem está dizendo isso. As estatísticas mostraram muito antes o que somente agora consigo dizer. Sobre o radicalismo, Lula até se engraçou com os camaradas Fidel e Raul Castro, Hugo Chávez, Nicolás Maduro, Evo Morales, Daniel Ortega e Rafael Correa, aos quais, conforme a turba bolsonarista, “emprestou” dinheiro público a fundo perdido. Não tenho filiação, tampouco teço loas ao petismo ou a qualquer liderança do partido. Entretanto, impossível negar que, interna e externamente, os maiores exemplos de extremismo são do governo patriota do capitão Bolsonaro. E esses exemplos afloram diariamente.

Será que estou mentindo? Com relação ao nosso rico dinheirinho, não disponho de dados suficientes para afirmar que Lula é ladrão ou que o din din repassado a cubanos, venezuelanos, bolivianos, nicaraguenses e equatorianos foi por meio de maracutaias. Se houve esquemas, nunca é tarde para cobrar. Então, cobremos dele a partir de outubro de 2022. Pois bem. Os governos denominados comunistas pelo bolsonarismo podem não ter sido modelos de probidade absoluta, muito menos de união nacional. E realmente não foram. Talvez tão ou mais populistas do que o de Jair Messias. Assumo que não tenho muita simpatia pelos que não são mais e que nutro antipatia total pelo que está.

Portanto, ao mesmo tempo em que acredito ter isenção para enaltecer feitos ou criticar malfeitos de ambos, me acho com um pouco mais de inteligência do que aqueles que preferem o fanatismo político barato, exagerado e sem noção. Pelo menos penso. Melhor ainda, consigo avaliar e formular opinião, sem nenhuma emoção, a respeito do que vejo, ouço e leio. Não entendo, por exemplo, a necessidade de um presidente da República registrar a honestidade como primeiro item curricular. Além de obrigação de todo homem público, ser honesto não é condição sine qua non para se governar. Ser correto, digno, direito, íntegro e honrado são princípios morais e, obviamente, fundamentais para a credibilidade de quem opta pela vida pública.

Todavia, para governar é necessário muito mais do que apenas retidão. Antes de tudo, é preciso preparo, condição, sabedoria e um mínimo de conhecimento do que se propõe a fazer. Resumindo, é imperiosa a tal da competência, sob pena de sequer apresentar boa vontade para o honroso cargo. O inferno está abarrotado de discurseiros vazios e de proponentes inoperantes. Nessa quadra em que vivemos, com o país mergulhado até o pescoço num mar de soberba e de negacionismo, enfrentamos a atroz dúvida da escolha futura de um novo presidente.

Colocando na mesma balança passado, presente e futuro, é fácil concluir que Luiz Inácio pode não ser o melhor dos candidatos. No entanto, com certeza não é o pior. Esclareço que limitar as referências ao atual e ao ex-presidente tem um razão: os demais não devem ser considerados nem como azarões. O povo sabe disso. As pesquisas eleitorais comprovam a afirmação. Elas não mentem, pois são o termômetro mais completo de medição dos anseios da população. E hoje não há dúvida de que não é Lula o postulante mais próximo do caldeirão incandescente da derrota.

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