Fernando Nakagawa e Denise Abarca
A inflação mais baixa que o esperado no início de setembro e o ruído gerado por declarações do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em Nova York, aumentaram as apostas de que o corte do juro se aproxima. Na quinta-feira, 22, os contratos negociados no mercado futuro de juros (que tentam antecipar o comportamento da taxa básica) já embutiam em 100% a probabilidade de redução de 0,25 ponto porcentual da taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, em 18 e 19 de outubro. A taxa está em 14,25% ao ano desde julho do ano passado.
Mesmo sem um avanço expressivo na agenda de reformas, o otimismo cresceu logo no início do dia, na quinta-feira, 22, com a divulgação da prévia da taxa oficial de inflação – o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) – que subiu 0,23% em setembro, após 0,45% em agosto. O número surpreendeu. Na quarta-feira, a sinalização do Federal Reserve (banco central americano) de que uma elevação dos juros nos EUA pode não ocorrer este ano ou será moderada também influenciou as apostas.
O movimento foi reforçado por uma entrevista do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, nos EUA, à agência de notícias Bloomberg. Ele teria classificado o corte da Selic em 2016 como “altamente provável”. O ministério esclareceu, porém, que Meirelles não fez tal afirmação e que, na entrevista, disse que a aprovação das medidas fiscais provocará queda do juro estrutural, sem fazer referência à Selic nem ao ano de 2016.
A equipe econômica espera que a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que limita os gastos públicos seja aprovada no fim de outubro na Câmara dos Deputados. A tramitação no Senado pode ter início em novembro. Ou seja, o primeiro avanço efetivo no Legislativo ocorreria alguns dias após a reunião do Copom de outubro, que balizou as expectativas do mercado de juros. Assim, o movimento de corte de juros previsto pelo mercado financeiro teria de ocorrer antes da definição sobre a política fiscal.
No mês passado, no documento que apresentou os argumentos para a decisão do Copom, o próprio Banco Central condicionou o corte dos juros à menor incerteza sobre a aprovação das medidas fiscais. Em outras palavras, apenas a inflação mais baixa não será suficiente para o corte da Selic.
O calendário citado pelo governo foi indicado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e caminha no mesmo passo da definição da corrida eleitoral municipal.
Encarado pela equipe econômica como um “farol para o mercado”, o discurso de Meirelles é assentado na condição essencial de aprovação das medidas fiscais no Congresso. Por isso, um de seus auxiliares diz que a equipe tem usado toda a energia e o capital político para esclarecer e tentar convencer parlamentares sobre a importância da aprovação da PEC do Teto.