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Infraero é primeira prova de fogo no roubo da propaganda

Edinho Silva, a quem Dilma Rousseff atribuiu a missão de melhorar a imagem do governo, recebeu, ao tomar posse na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, uma metralhadora giratória virtual com muita munição. O ministro foi orientado a usar a arma na guerra que se trava contra supostos focos de corrupção nas contas de publicidade de ministérios, autarquias, órgãos públicos e empresas estatais.

A determinação veio no bojo do escândalo envolvendo a Caixa Econômica Federal, o Ministério da Saúde e agências de propaganda num esquema de corrupção descoberto em uma nova fase da Operação Lava Jato. A primeira batalha do bem contra o mal, que tem Edinho comandante (do lado do bem), começa a ser travada em torno de uma mísera conta de 20 milhões de reais, se considerados os mais de R$ 700 milhões da CEF e da Saúde.

O palco em que se trava o combate é a sala da Comissão de Licitação da Infraero. De um lado estão gladiadores acima de qualquer suspeita, representados por agências de publicidade idôneas que não praticam o famigerado BV por fora.  Na outra ponta, a turma do mal, que alimenta corruptos como o ex-deputado do PT André Vargas, flagrado com o bolso cheio de dinheiro ao intermediar as licitações da Caixa e do Ministério da Saúde.

Mas não só o PT (no caso, Vargas) mantém olhares de volúpia para as polpudas verbas de publicidade do governo. Há os que, se fingindo lânguidos, se escondem por trás do PMDB e de outras siglas partidárias para abocanhar a chave do cofre. Ou, como picaretas que são, ferir paredes que se acreditam sólidas, como quem tenta esburacar minas de ouro em busca do melhor filão.

Para levar a missão a sério – e não há nada que demonstre o contrário – Edinho Silva decidiu que a comissão técnica responsável pela licitação da Infraero deve descartar de imediato orientações políticas, tenham ou não o aval de um vale poderoso.  O ministro tem essa primeira demanda da publicidade pública desde a descoberta das manipulações comandadas por André Vargas, como a principal prova de fogo da sua gestão. E promete coroar com êxito seu trabalho.

Independente da ação da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, o Ministério Público e a Polícia Federal decidiram mostrar que estão pousando os olhos nessa licitação. Além disso, é consenso no mercado publicitário que a conta será entregue à agência que apresentar a melhor campanha técnica, respeitado o briefing fornecido pela Infraero.

A expectativa é a de que a ousadia, a criatividade e o melhor trabalho se sobreponham ao conhecimento e aos conchavos políticos. A ordem é para que não haja direcionamentos que beneficiem A ou C, passando pelo B e fechando com V vértice. O feudo que sempre comandou a publicidade nos dois extremos do Eixo Monumental foi descoberto.  E cabe a Edinho mostrar que os tempos são outros, e que aves de rapina devem ser abatidas antes mesmo de alçar voo.

José Seabra

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