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Tiro no pé

Ingerência na Petrobras pode afundar economia

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Autor/Imagem:
Thais Carrança/BBC News - Edição de Mário Camargo

Mexer no comando da Petrobras de supetão, como fez o presidente Jair Bolsonaro, pode provocar sérios danos á economia. Ao invés de resultar em queda da inflação, a medida pode levar a uma aceleração dos preços, devido à desvalorização do real frente ao dólar, como resultado do aumento da incerteza.

Analistas de mercado lembram que a taxa de câmbio influencia o preço de todas as commodities, incluindo os alimentos. Pesa ainda sobre os custos da indústria, que acabam sendo repassados ao consumidor ou prejudicando a saúde financeira das empresas.

A piora na percepção de risco no país também tende a travar os investimentos das companhias, levando a uma redução das expectativas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. E, com a piora do quadro inflacionário, o Banco Central pode ser levado a antecipar a alta da taxa básica de juros (Selic), o que afetaria também as perspectivas para o desempenho da atividade econômica em 2022.

Atualmente, a Petrobras adota uma política de paridade de preços dos combustíveis com o mercado internacional. Com isso, gasolina, diesel e gás de cozinha variam acompanhando as flutuações do preço do petróleo e a taxa de câmbio.

“Há um enorme ponto de interrogação sobre o futuro da política de preços dos combustíveis. Se Bolsonaro partir para uma linha populista, o que tem uma probabilidade muito grande de acontecer, pode haver aumento da incerteza, fazendo com que o real se desvalorize mais fortemente em relação ao dólar, e aí o contágio na inflação é bem mais generalizado”, afirma André Braz, coordenador de índices de preço no Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

“Se o pobre vai economizar no gás de botijão e na passagem de ônibus urbano, que é influenciada pelo preço do diesel, por outro lado, ele é penalizado pelo encarecimento de outros itens componentes da cesta básica”, explica o economista.

Na manhã desta segunda-feira, o dólar chegou a superar o patamar de R$ 5,50, após fechar em R$ 5,39 na sexta-feira anterior. Já as ações da Petrobras chegaram a cair quase 20% na bolsa de valores paulistana.

O especialista da FGV explica que a alta do dólar afeta, por exemplo, o preço das carnes, que já acumula alta de 23% em 12 meses até janeiro.

“A carne bovina, por exemplo, é muito demandada pela China. Quanto mais desvalorizada nossa moeda está, mais carne a gente vende para a Ásia. Com isso, o produto sai cada vez mais do nosso país, o que é ruim para a inflação, pois desabastece o mercado brasileiro”, diz Braz. Com menos carne disponível, o preço dela tende a subir.

Ele explica que esse mesmo efeito deve levar a uma alta de preços da soja e do milho, que são usados como ração na engorda de animais como suínos e aves.

“O custo de criação desses animais aumenta. Então, além do avanço da exportação, pela desvalorização do real, também podemos ter um aumento de custos nesses segmentos, o que pode aumentar o preço dessas carnes e também do ovo”, diz o analista.

Outro exemplo de produto cujo preço pode subir é o minério de ferro, usado na construção civil e também na fabricação de bens duráveis como automóveis, fogões, geladeiras e máquinas de lavar, feitos com chapas de aço. “O espalhamento da inflação, entre itens da cesta básica e bens duráveis é enorme”, conclui o economista.

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