Todes
Inscangaioi o portugueise. Qué briganhá ou latiná?
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emJá vi um vídeo do Ariano Suassuna criticando autores que escrevem palavras erradas ditas pelo povo. Agora está em voga o tal uso de todes, que, acredito, irá pegar, apesar da reprovação de parte da sociedade, geralmente movida por questões morais. Tal assunto, que irrita muita gente, chegou até mim pela provocação de um colega, o Lúcio, que deveria ter imaginado estar munido de um Ás na manga.
— Edu, anteontem falei com uma professora, que disse que a língua tem que ser natural.
— Hum.
— Ela me contou que a palavra presidenta não é natural. Ela é difícil de ser dita: PRE-SI-DEN-TA. Não é natural como PRE-SI-DEN-TE.
— Lúcio, não sei se você e essa tal professora sabem, mas presidenta é uma palavra bem antiga, e não foi a Dilma que a inventou.
— Edu, mas você não concorda que presidente é mais natural? Olha como sai mais suave: PRE-SI-DEN-TE.
— As palavras não são criadas a partir da naturalidade. Mas, caso você encontre a sua professora, pergunte o que ela acha de todes.
— Ah, aí, você tá pegando pesado. Todes. Onde já se viu essa coisa de todes? Já temos todos e todas. A nossa língua é tão linda e rica. Por que deveríamos agredi-la com todes?
— Lúcio, eu até gosto de todes. Repare que soa muito mais natural: TO-DES. É mais fácil de ser dita que TO-DOS e TO-DAS.
— Se for assim, daqui a pouco o português estará tão deturpado, que nem entenderemos o que as pessoas estão falando.
— Lúcio, se você quer uma língua que não mude, vá aprender latim. Ah, mas mesmo assim vai ter um probleminha.
— Qual?
— Se você quiser que ela continue morta, não a use com ninguém, pois é certo que a danada vai começar a se transformar. E vai ser tão rapidinho, que você vai se arrepender.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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