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Inseguros até o botão, governadores fazem pouco caso da PEC da segurança

Com ou sem segundas intenções, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu governadores para apresentar uma Proposta de Emenda Constitucional que amplia a atuação da União nas ações de segurança pública do país. A ideia é de um “pacto” entre governos federal, estaduais e municipais para combater o crime organizado. O argumento é de que, “logo, logo, o crime organizado estará participando de concurso, indicando juiz, procurador, político e candidatos…” Lula está atrasadíssimo, pois tudo isso é fato consumado no Brasil. E faz tempo. Mesmo assim, apesar dos botões fechados para todo tipo de agulha, governadores e prefeitos têm feito de conta que a insegurança é coisa passageira ou brincadeira de criança.

Pois foram exatamente esses os maiores críticos de uma suposta boa intenção. Os mais “escrupulosos” desde já são contra a proposta do Governo Central que, segundo eles, quer tirar a autonomia dos estados na questão da segurança pública. Que autonomia eles têm sobre o tráfico e as milícias? Nenhuma. Se borram de medo. É o caso do Rio de Janeiro. Na última dantesca cena da segurança fluminense e carioca, um grupo de criminosos vinculado ao traficante Peixão expulsou a polícia do governador Cláudio Castro da Avenida Brasil, a mais importante via expressa da cidade.

Liderada pelo homem que prega o evangelho na comunidade e espalha a Estrela de Davi por onde passa, a bandidagem da região denominada Complexo de Israel mostrou ao Brasil e ao mundo que a segurança da cidade que um dia foi maravilhosa está entregue às baratas. Na verdade, às ratazanas que pilotam o Estado com mãos de alface. Ineficaz e sem comando, o sistema público do Rio de Janeiro e da maioria dos estados está sob controle do crime organizado, parte dele, deliberada ou politicamente, infiltrado nas entranhas dos governos estaduais, principalmente nas polícias Civil e Militar.

Com o governador Castro refém de si mesmo, do tráfico e da milícia, resta à população trabalhadora e ordeira pedir ajuda aos deuses das guerras, com destaque para Vladimir Putin, Benjamin Netanyahu e Kim Jong-un. Antes de recorrer aos orixás dos canhões, o povo precisa aprender a se defender dos maus políticos. São eles os grandes culpados pela perda do controle da segurança pública. Os almanaques estão aí para refrescar a memória dos brasileiros, notadamente dos cariocas e fluminenses. Por razões diversas, a maioria se esquece que seus escolhidos, normalmente seguros até o cordão umbilical, não circulam nos horários de rush em barcas, trens e ônibus lotados. Passar próximo às chamadas comunidades, nem pensar.

Embora convivam pacificamente com os chefes endinheirados, eles têm horror à marginalia miúda. É mentira? Quem não se lembra daquele governador do Rio de Janeiro que, além de andar para cima e para baixo acompanhado de um bandidaço do Comando Vermelho, tolerou a contravenção, inclusive recebendo bicheiros do primeiro escalão no Palácio Guanabara para convescotes nada republicanos. Também é bom lembrar que foi dele a ideia de, em 2018, intervir na segurança do estado. Apesar do custo de R$ 1,2 bilhão por dez meses de intervenção, o pífio resultado até hoje é motivo de galhofa nas comunidades locais.

A iniciativa pelo menos serviu para mostrar que o discurso de Cláudio Castro culpando a União pelo colapso da segurança é muito pior do que o de um gago narrando uma partida de futebol. Sem trabalho árduo e conjunto não será fácil zerar a violência em um centro onde os seis últimos governantes estiveram presos por má conduta administrativa. Independentemente de quem seja a culpa, o fato é que, mais do que insuportável, o que acontece no e com o Rio de Janeiro é inaceitável sob todos os pontos de vista. Os governadores não gostam de ouvir, mas no Ceará, na Bahia, em Goiás, no Distrito Federal e em várias outras unidades a situação não é muito diferente.

Os que acham a PEC do governo federal uma “usurpação de poderes” que tenham humildade e mostrem ao país e ao mundo como eles acabaram com o crime organizado em seus estados. Na fábula dos ronaldos que não conseguem ficar calados, quem desdenha quer comprar… Se estivesse na reunião teria dito ao mais radical deles: “Por qué no te callas?.

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